Enxergar que está em uma relação de violência e que o único culpado é o agressor é o primeiro passo para sair de uma situação de culpa, se colocar de fato como vítima e buscar ajuda. Numa sociedade machista, que coloca mulheres como posse dos homens, é preciso o acolhimento, como afirma a advogada Caroline Domingues Leahy.
“Saber que não está sozinha e que a violência não é normal, passando assim a contar com uma rede de amigos e com os órgãos competentes para buscar ajuda e, principalmente, com a credibilidade de que é possível sair da situação de violência”, ela diz.
Caroline, que é presidente da Comissão Especial da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Alagoas (OAB/AL), ressalta que o medo acaba por dificultar a denúncia. “Infelizmente temos uma cultura enraizada do machismo. Essa realidade que ainda é latente, faz com que as próprias vítimas se questionem: “O que eu fiz para que acontecesse isso?”.
Isso ocorre, de acordo com a profissional, “por medo e receio do que as pessoas vão pensar, inclusive da própria família. Mas nunca esse receio deverá impossibilitar o quão é importante a denúncia, a quebra do ciclo”, ressalta Caroline, que é representante da OAB no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim) e atualmente atua como advogada no escritório Broad & Leahy Advocacia, Assessoria e Consultoria.
Além disso, a chamada inversão do ônus da prova, como informa Caroline Leahy, também contribui para que mulheres passem de vítima a réu. Vêm daí, expressões tipo: “Ela gosta, apanha mas gosta; não sai de casa porque gosta”.
“Meter a colher e denunciar”
Por que muitas mulheres silenciam? Caroline é taxativa: “O medo e o receio de não ser escutada. Quebrar o ciclo não é algo fácil, mas é preciso que se entenda que pode salvar a vida daquela mulher, que pode ser evitado um possível feminicídio em muitos casos. Destacamos também a importância de “meter a colher“ e denunciar (pode ser feita anonimamente por terceiros). Em situações de justiça, o respeito deve pairar”, ela diz.
Preferencialmente, a vítima deve estar representada por uma mulher, orienta a advogada.
“A vida ensina o feminismo”
Mãe de dois filhos, feminista, nascida em São Paulo capital, filha de mãe gaúcha e pai alagoano, morando em Maceió desde 1984, Caroline formou-se primeiro em Administração de Empresas, e após em Direito, passando a atuar na advocacia.
Diferente do que se entende por feminismo, muitas vezes de forma pejorativa, ela destaca que “a vida ensina o feminismo. É um estilo de vida, não é uma frase, não se aprende só em livros. Observa-se como é importante enxergar a desigualdade entre gêneros, a injustiça contra as mulheres e o quanto é necessário se colocar diante disso para mudar essa realidade”.