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Professora, miss plus size, uber: conheça Leylanne Cabral, que superou preconceito e inspira mulheres

Ela é professora, pedagoga, modelo plus size, motorista de aplicativo e artesã. Aos 34 anos, Leylanne Cabral é o que se pode chamar de multiprofissional. Além de tudo, todos os dias precisa superar o preconceito que enfrentam as mulheres acima do peso e padrão definidos como “ideais” pela sociedade. Mas isso não importa para ela. Ao contrário! Ela venceu todas as barreiras e hoje se considera uma inspiração.  

“Trabalho em uma escola particular atuando no ensino fundamental, anos iniciais. Também possuo uma lojinha virtual (@artesdaleyla) e sou professora particular, ensinando em domicílio. Também divulgo lojas como modelo plus size, fazendo provadores, além de ser motorista de aplicativo nas horas vagas”, conta Leylanne. 

Foi no meio de umas férias que ela decidiu ser uber. “Como sou professora particular, nas férias eu não ensino e, portanto, não ganho. Daí, depois continuei pra ganhar um extra”, ela revela, ao dizer que a ideia não foi muito aceita pela família. 

“Minha família que não gostou muito, porém nunca passei por nenhum episódio excepcional. Também não rodo à noite, geralmente só à tarde até umas 18h30. O engraçado é a reação das pessoas em saber que sou professora, mas mesmo assim trabalho como motorista. Ou por ser mulher ou pelo meu carro que é todo personalizado (os bancos são de zebra). Mas gosto bastante, pois assim conheço várias pessoas, converso.” 

“Todos têm sua beleza” 

Leylanne também se destaca como miss plus size, o que para ela significa “ser referência para outras mulheres. “Ser inspiração para mim mesma e para outras mulheres curvilíneas. É um título inesquecível que mudou a minha vida com relação a minha autoestima, aceitação e fez com que eu enxergasse os corpos de maneira diferente. Todos têm sua beleza e que não existe padrão”. 

Mas nem tudo foi fácil e ela conta que teve que passar por muitos obstáculos, impostos inclusive pela família. “Sim, com certeza”, diz Leylanne quando questionada se sofreu gordofobia por seguir a carreira de miss.  

“Hoje em dia não muito, pois a aceitação é melhor, porém quando decidi participar dos concursos não tive apoio da família e uma das minhas irmãs até falou: “Não tem espelho em casa não? Se enxerga”. Isso me abalou muito, mas depois fez com que me impulsionasse mais ainda para correr atrás dos meus sonhos e me valorizar.” 

Às mulheres, ela orienta: “Não aceite “críticas construtivas” de quem nunca construiu nada. Viva, corra atrás dos seus objetivos e siga em frente. Sempre vai haver quem critique e também quem apoie. É natural. Não importa o que dizem sobre você. O que importa é o que você vai fazer depois do que falam de você. Eu tomei a decisão de não absorver e segui”. 

A decisão de ser quem é, ela revela, representou liberdade. “Liberdade para me aceitar, para me amar, para não aceitar a imposição de padrões pela sociedade. Saber que todos são diferentes e cada um tem a sua beleza e essência. E poder ajudar outras mulheres com meu exemplo também foi muito gratificante”. 

Não foram poucas as vezes que sentiu na pele os efeitos da gordofobia, que vieram muitas vezes em palavras. “Algumas me marcaram bastante, mas o fato de entrar numa loja e a vendedora dizer: “Aqui não tem nada pra você” ou “nunca vai arrumar namorado/ emprego”, acredito que foram as piores”. 

Mais sororidade 

E o pior, Leylanne diz que esse tipo de comportamento é mais comum nas mulheres.  “Acredito que parte mais das mulheres. Aprendi, ao longo dos anos, que homem não liga muito se você tem estrias ou celulite ou alguma gordurinha. Mas as mulheres sim”. 

“Às vezes os julgamentos vêm através de olhares. Acredito que as mulheres deveriam se apoiar mais, se elogiarem, se enaltecerem. Não há nada de errado em você elogiar uma outra mulher, vibrar com suas conquistas ou ajudá-la em algum momento. Não devemos ver a outra como uma concorrente e sim como um ser humano que também possui seus problemas, suas dores, sua bagagem de vida. Deve haver mais sororidade.”  

A professora, no entanto, afirma que não se incomoda por não estar no padrão de corpo definido pela sociedade  como “o ideal”.  “De forma alguma. Até porque aprendi que não existem padrões. O padrão é você. Somos únicos e importantes para quem nos ama. Nosso valor vai muito além do nosso corpo. Vem de dentro de nós. Nossa essência e caráter”, ela diz. 

E revela que passou um bom tempo de sua vida tentando se encaixar nesses “padrões”. 

“Tentando mudar o meu corpo com dietas malucas e cheguei a uma conclusão que a mídia só quer isso. Criam-se os padrões para você ficar refém de produtos e alimentos a fim de atingir um “corpo ideal” que na verdade é fruto de um photoshop ou uma vida restritiva e doente. Prefiro “viver” realmente sem me preocupar com as opiniões que não me acrescentam”, afirma Leylanne. 

Mesmo não fazendo parte de algum movimento, de nenhum grupo de mulheres que milita  contra a gordofobia, ela informa que procura sempre se engajar para ajudar outras mulheres. 

“Procuro sempre passar isso para minhas amigas e pessoas que me acompanham em minhas redes sociais. Passar a ideia de que seu corpo é especial, que você é especial. Que devemos ter um “corpo livre”. Quando falo “corpo livre”, o famoso body positive, me refiro a ter um corpo livre de padrões, de imposições, de preconceito”. 

Das palavras que marcaram sua vida, a professora lembra de um dia quando entrou em uma loja: “Aqui não tem nada pra você” ou “nunca vai arrumar namorado/ emprego”

“Um “corpo livre” é aquele que é livre pra fazer exercícios, pra se alimentar saudável sim, porém sem restrições malucas ou até mesmo mutilações ou mudanças que podem prejudicar ainda mais seu corpo, como plásticas desnecessárias ou outros procedimentos estéticos que são feitos por pressão de alguém. Deixando bem claro que não sou contra procedimentos estéticos, porém acredito que se quer alguma mudança, que parta de você ou por questões de saúde.”