Uma mulher que vive um ciclo de violência pode ter inúmeros problemas — emocionais e físicos –. Para tentar “anestesiar a dor”, muitas vezes, ela recorre ao álcool ou até as drogas ilícitas. Será que uma mulher que vive uma situação de violência está mais propensa à dependência química?
O Eufemea conversou com a terapeuta em dependência química e não química, Ana Paula Siqueira. Segundo a especialista, alguns casos de violência doméstica podem levar à dependência química.
Ela reforça que mulheres que convivem com parceiros que são portadores da doença da síndrome da dependência química estão mais vulneráveis a violência doméstica com o entendimento que a violência doméstica não se trata só da física, mas do abuso emocional, psicológico, verbal, entre outros.
“A droga não só afeta o dependente químico, ela afeta o sistema familiar. Desde a hierarquia familiar, o papel desempenhado por cada membro daquele sistema passa a sofrer inversão, a comunicação entre os membros da família não mais existe”, explica.
O dependente acredita que a sua relação com a mulher e filhos não é mais importante. No caso da mulher ser dependente, o marido é o primeiro a deixá-la e os filhos ocupam o seu lugar. Assim, eles desempenham o papel que não é deles e com isso vivem um turbilhão de emoções.
“Eles sentem medo de não se sentirem amados e sentem medo de serem julgados porque a mãe é dependente química”, conta.
Recuperação
Ana Paula disse que o primeiro passo é reconhecer que ela precisa de ajuda. “A decisão é dela. Não adianta os outros terem a vontade de ajudar e ela não reconhecer que está doente”, disse.
Segundo a especialista, a negação é uma das principais características da dependência química.” É recomendado que ela procure um terapeuta em dependência química, dê preferência e seja acompanhada por ele”.
Caso o grau de comprometimento seja grave, ela deve buscar um centro de recuperação porque lá ela será acompanhada dia e noite por profissionais.
“Também existem os grupos de auto ajuda como Alcoólicos Anônimos, que salvam vidas através da fala, do compartilhamento de experiências, de uma causa e propósito único. Um novo modo de viver”, explica.
Assim, como a dependente, a família também necessita de apoio e acolhimento. A família assim como o dependente químico está adoecida.
“Durante o processo em que esteve acompanhado a doença do outro, ela se tornou também doente. Ela ficou codependente. Ou seja, ela se tornou controladora da vida do dependente. Viveu em função do que o outro fazia, assumiu as funções que eram de responsabilidade do outro e quis controlar a vida dele”, disse.
Como podemos ajudar?
“Nós ajudamos a amando. Estendendo a mão. Dizendo para ela que ela não escolheu ser dependente química, mas infelizmente ela não teve condições emocionais de ressignificar as situações adversas, os traumas emocionais, o seu EU criança, que talvez ela não tenha se perdoado por alguns erros. Mas todos erram e ela tem o direito de recomeçar”, afirma.
O recomeçar vem de algumas formas: “mudando os padrões disfuncionais de pensamento, os comportamentos, as ações, os velhos hábitos”.
“E que sua família, terapeuta e amigos estão juntos nessa caminhada com ela. É difícil, mas não impossível. O primeiro passo é fundamental”, conclui.