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Gastróloga conta como enfrentou depressão pós-parto e lidou com solidão: “A mãe é julgada por tudo”

Tristeza, desespero e falta de esperança após o parto. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revela que uma em cada quatro mães de recém-nascidos no país são diagnosticadas com a doença. Ao Eufemea, a bacharel em Direito e Gastróloga, Michelle Jatobá, de 33 anos, contou como lidou com a depressão pós-parto.

Ela conta que, começou a perceber que tinha algo de errado acontecendo desde a gestação por volta dos 7-8 meses. Michelle estava muito chorosa, sentindo-se feia, inútil e a ausência física do seu companheiro na época nas ultrassons a magoava.

Mãe solo, Michelle sentiu uma pressão imensa para cuidar do filho sozinha. “Fui mãe de primeira viagem por tempo integral”, comenta. Ela enfatizou que a mãe é sempre julgada por tudo e que isso gera uma sobrecarga. “A responsabilidade deveria ser de ambos”.

Quando seu bebê tinha menos de sete dias de nascido, Michelle começou a chorar ainda mais, ter ansiedade, sentimento de culpa e sensação de que ela não era uma boa mãe.

Isolada do mundo, Michelle disse que não queria ver ninguém. “Tive insônia, ganho de peso, sentimentos confusos e repetitivos”.

“É um privilégio quem tem com quem contar, quem tem apoio familiar, quem tem horas boas de sono e que ainda consegue manter sua rotina antes da chegada da criança, que consegue se alimentar bem e se divertir. Algo que não tive por 2 anos pelo menos”, explica.

Tratamento foi essencial

Durante o período que lutou contra a depressão pós-parto, Michelle fez tratamento com o uso de medicamentos, psicoterapia e psicanálise. Além de ter acompanhamento de um neurologista e psiquiatra.

O tratamento durou mais de três anos e durante o tratamento, Michelle não queria levar a preocupação para seus pais, então se isolou e fingia que estava tudo bem, mas quando seu filho fez dois anos sua família soube da sua luta interna e a partir daí, ela teve todo o apoio e carinho dos pais.

“O amor incondicional dos meus pais foi um diferencial enorme. O apoio familiar das pessoas que me amavam de verdade me tirou do fundo do poço e trouxe cor a minha vida onde eu já não via mais importância”, conta.

O pai dela a acompanhava e incentivava que ela fosse à faculdade; ficava com o neto para que ela pudesse se divertir e fazia comidas que a filha gostava para que ela pudesse se alimentar.

Michelle disse que muitos amigos se afastaram, pois ela se rejeitava a ir para uma festa, por exemplo, já que sempre inventava uma desculpa quando na realidade estava psicologicamente abalada.

Ouviu de vários que depressão era frescura. “Muitas vezes alguém com depressão só precisa de um momento em silêncio e um abraço apertado que traz tanto significado para a pessoa se sentir especial e vida”, desabafa.

Apoio da família é importante

A gastróloga deixou um conselho para quem está passando por um processo de depressão pós-parto.

“Se amem muito, vocês são incríveis, só o fato de gerar uma vida e ter um amor além do seu próprio, já transcende um milagre”, disse.

E conclui dizendo que “família é aquele pessoa seja consanguíneo ou não, mas que sempre está junto dando apoio, criticando de forma construtiva quando necessário. E que sempre torce pra te ver vencer na vida. Que te apoia nem que seja 10 minutinhos pra você poder tomar um banho decente. Valorizem muito o apoio familiar nesse momento.”