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“Não desistam de viajar por que são mulheres” diz paraibana, há 7 meses na estrada, após sofrer tentativa de abuso em Honduras

Alessandra Nogueira no Dia de Muertos, México. Arquivo pessoal

Em novembro de 2021, a paraibana Alessandra Nogueira realizou o sonho de conhecer o México com o objetivo de vivenciar o Dia de Muertos (Dia de Finados), celebrado com muitas cores, música e festa! O plano inicial era passar menos de um mês no México, “inclusive tinha minha passagem de volta comprada”, afirma Alessandra, que se encantou pelo país, por sua gente, e decidiu ficar mais tempo.

Depois de 6 meses no México e sem passagem de volta para o Brasil, Alessandra resolveu voltar “por terra”, conhecendo os demais países da América Central.

Depois de percorrer o país, ela passou pela Guatemala e por El Salvador, chegando finalmente a Honduras. E foi nessa última parada, no dia 15 de junho, que ela sofreu uma tentativa de violência sexual em uma praia, quando fazia vídeos e fotos.

“Estava numa casa a apenas 2 ruas da praia e aproveitei que o dia estava lindo para caminhar pela areia, me bronzear, tomar banho de mar e relaxar. Parei por um momento para apreciar a vista e fazer algumas fotos. Passei por um pedaço de rio que se encontrava com o mar. Aí estava um homem e uma criança com uma bicicleta. Os cumprimentei e segui adiante.

Caminhei por mais uns 10 minutos e de repente alguém me abraça por trás. Por alguns segundos eu pensei que fosse alguém conhecido, até que sou atirada no chão. Eu gritava ‘o que está fazendo?’ ‘Por favor, pare!’

Ele parou e se levantou… Olhava para os lados para saber se alguém havia escutado meus gritos… Vi no seu olhar um pouco de arrependimento e culpa, de quem agiu por um doentio instinto. Então ele baixou a cabeça e seguiu em direção ao rio, onde estava o menino com a bicicleta. Agarrou um balde com água e foi embora. Fiz um vídeo para tentar capturar sua imagem, mas eu estava tremendo muito e não ficou bom. Ele viu que eu estava filmando e por um instante pareceu que ia voltar, mas depois ele foi embora e entrou na mata.”

Assim que saí da praia me dirigi ao Posto Policial que está há alguns metros e apresentei os vídeos que fiz. Eles apenas pediram que eu enviasse por WhatsApp e disseram que iam fazer uma “ronda” para tentar localizar e caso encontrasse algum suspeito, me enviariam a foto para que eu pudesse fazer o reconhecimento. Mas em momento algum registraram um BO, nem sequer perguntaram meu nome… E ainda me olhavam com uma cara de ‘aconteceu porque andava sozinha’.”

O relato está presente no Blog em que Alessandra narra toda sua trajetória pela América Central.

Ela ainda afirma que além de Honduras, os perrengues que passou por ser mulher aconteceram apenas no Brasil.

“Estava no Acre e tinha acabado de cruzar a fronteira do Peru. Mas eu não estava sozinha, eu viajava com minha mãe. Pegamos um táxi da fronteira de Assis Brasil até Rio Branco, combinamos um preço até o destino final. Mas no caminho, em uma pequena cidade chamada Brasileia, o taxista decidiu cobrar mais.

Acho que ele pensou ‘são duas mulheres, no meio da noite, vão pagar o que eu pedir’. Só que eu não aceitei, comecei a discutir com ele e pedi que nos deixasse ali mesmo, pois nem de graça íamos seguir com um desonesto como ele. A cidade estava deserta e minha mãe estava muito nervosa, ela tinha 60 anos e era sua primeira viagem como ‘mochileira’. Por sorte, passou outro taxista e aceitou nos levar a Rio Branco pelo preço justo. Nunca passei por nada semelhante em outro país”.

Apesar do pavor que viveu, Alessandra diz que a situação deixou algumas lições dolorosas e a alertou para evitar lugares desertos. “Seguirei viajando, só que um pouco mais atenta, infelizmente praias desertas só são um paraíso nos filmes”.

“Pela primeira vez, em todo esse tempo de viagem, sofri uma tentativa de estupro. Percebi o quão forte pode ser um homem quando quer violentar uma mulher, que seu pênis é sim uma arma e quão frágil somos nós por possuir uma ‘abertura’ entre as pernas”, relata.

“Estou viajando sozinha há mais de 7 meses pela América Central, um lugar com vulcões ativos, terremotos e furacões, mas o risco maior de me machucar ou até mesmo de morrer não vem por um desastre natural, e sim por um ser da minha própria espécie: o homem!”, completa.

Parque Arqueológico Ruinas Copán, em Honduras. Arquivo pessoal

Mesmo diante dos riscos, Alessandra enfatiza: “não desistam de viajar por que são mulheres! “O maior número de abusos e feminicídios acontece dentro de casa e na maioria das vezes por, parentes próximos. Uma boa dica que posso dar é que pelo menos, alguém da família ou amigo saiba seu destino ou onde você ficará hospedado. Assim, as pessoas poderão te encontrar (caso precisem)”.

“Viajar sozinha te liberta pois o único interesse que conta é o seu. Para mim, é sinônimo de independência e autonomia”, diz Alessandra, que continua sua jornada.

*com Paraíba Feminina