Esse grupo é das moradoras de Fernão Velho e adjacências, que são atendidas pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) localizado no bairro.
As consequências do isolamento entre elas foram muitas – desde ansiedade e depressão a dores de cabeça e dificuldades para andar – mas foi graças ao apoio umas das outras, quase sempre pelo Whatsapp, que elas conseguiram manter a saúde mental em dia até o retorno dos encontros.
E, por esses motivos, a reunião dessa quinta-feira (22) promovida pelo Cras em parceria com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família foi especial: tratou do tema suicídio, em referência ao Setembro Amarelo.
Por meio de dinâmicas, dança, caminhada e conversas, os profissionais da Secretaria Municipal de Assistência Social e Secretaria Municipal de Saúde puderam abordar o assunto de forma leve, desmistificando as questões relacionadas aos transtornos que podem levar a comportamentos suicidas.
“Estamos vindo de um momento de isolamento, de crises por depressão e ansiedade, questões que foram muito fortes no grupo. Muitas desenvolveram fobia do contato social, dores de cabeça constantes, ansiedade, coração disparado. Tudo isso, elas perceberam e foram acompanhadas por médicos, que associaram ao momento de isolamento. Por isso, hoje, o encontro é especial”, destacou a coordenadora do Cras Fernão Velho, Adriana Izabel.
Coordenadora do Cras e psicólogo do Nasf abordaram o tema suicídio com as participantes. Foto: Bárbara Wanderley/Secom Maceió
Quem levou o debate às participantes foram o psicólogo Farley de Melo e o terapeuta ocupacional Anthony Antunes, do Nasf 9. Após um momento de dança e exercícios físicos com o educador Roberto Henrique, as mulheres trocaram ideias sobre situações pelas quais passaram ou ainda passam, que podem gerar transtornos psicológicos e entenderam mais sobre como lidar com a ansiedade, a depressão e quando pedir ajuda.
“Durante a conversa são ativados gatilhos e a partir do momento em que elas trazem o problema, a gente compartilha com o grupo e desmistifica fantasias associadas ao tema suicídio. Dá para trabalhar questões individuais de forma sutil, abrindo espaço para que a gente as oriente. A gente precisa desmistificar o suicídio; ele não é uma doença, é um comportamento, que existe a partir de um adoecimento”, explicou o psicólogo.
Encontro especial tratou dos danos causados pelo isolamento e sobre o comportamento suicida. Fotos: Bárbara Wanderley/Secom Maceió
“Mulheres fortes, guerreiras e poderosas”
Dona Josete Maria começou a participar dos encontros há cerca de três meses, depois que teve um pico de estresse provocado por problemas financeiros e no casamento. Ela foi convidada pela amiga, Benedita Américo, veterana do grupo batizado de “Mulheres fortes, guerreiras e poderosas”. As reuniões e atividades têm sido como uma terapia.
“É uma distração. Fazemos artesanato, conversamos, dançamos. É um dia muito esperado, quando a gente se junta tudinho”, revelou Dona Josete.
Também é terapêutico para Vicência Bernardo da Silva. Ela ficou completamente isolada por pelo menos seis meses durante à pandemia, porque cuida da mãe, que tem 100 anos de idade, e diz que foi difícil lidar com o afastamento social.
“O período da pandemia foi horrível. Uma ansiedade que só Jesus. Antes, eu fazia caminhada, atividade física, vinha pro grupo, mas nem na padaria eu estava indo, na pandemia. Senti muito, estava mais irritada. Agora estou mais calma, sabendo lidar mais com os problemas. Aqui, a gente conhece o problema das outras pessoas e pode ajudar e ser ajudada. Nosso grupo é assim, uma ajuda a outra”, ressaltou.
A criadora do nome do grupo, a psicóloga Vera Calheiros, atestou o que diz Vicência. A união que se criou entre as participantes é admirável e contribui com o objetivo maior do Serviço de Convivência, que é emancipar as mulheres, torná-las independentes, emocionalmente e financeiramente, além de promover autoestima e bem-estar.
“Acho incrível nelas o espírito de solidariedade. É muito gratificante vermos os resultados maravilhosos. Elas descobrem aqui que a missão delas vai além de ser mãe, avó. Nesse momento, elas conseguem se desprender um pouco dos problemas de filhos, marido, e se sentem mulheres de valor. Uma tarde que passam aqui dançando, escutando uma palavra, fazendo um trabalho, é um momento muito importante e enriquecedor. Elas saem renovadas”, revelou.
Benedita Américo concorda. Ela é uma das entusiastas dos encontros. “Quando as mulheres se juntam, ficam mais poderosas. O grupo incentiva a gente a não ficar em casa. Para quê? Quando eu puder sair, saio. É bom ficar sempre ativa. Temos que nos alegrar, ir para frente, não para trás”, incentivou.
*Com Ascom Semas