Estudar, trabalhar com o que gosta e se identifica motiva a perseverar na carreira escolhida, sobretudo, nos momentos em que as dificuldades parecem ser maiores do que os potenciais benefícios. Com Nayara Barreto da Costa foi assim. Sua experiência na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) com o campo da Geografia a levou a concluir uma licenciatura, um mestrado e a iniciar um bacharelado. Tudo na mesma área. E a trajetória dela vai continuar, agora, com um doutorado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe), uma das mais renomadas instituições na área de pesquisa científica e tecnológica.
Residente no município de Pilar, região da Grande Maceió, Nayara cursou toda a educação básica na rede pública de ensino. Ela lembra o impacto da mudança do ensino médio para o superior, mas destaca que a memória ficou marcada mesmo foi com o contato positivo que ela teve com o curso escolhido. “Ingressei na Ufal no ano de 2015 e confesso que foi uma das melhores experiências que já tive até o momento em minha vida. Tive dificuldades com algumas disciplinas, as quais foram superadas com o auxílio de colegas, amigos e professores”, recorda.
Durante a graduação, as oportunidades para se dedicar à iniciação científica foram surgindo e Nayara decidiu aproveitar, apesar do medo e da insegurança de não conseguir “dar conta” da atividade. “Passei a ter os primeiros contatos com a ciência e a perceber que a vida acadêmica e a pesquisa eram mais umas das realizações que aos poucos eu queria ir conquistando, mesmo em meio a tantos desafios e, por vezes, sentimentos de incapacidade, mas sabia que, independente, deveria seguir em frente, ‘firme e avante’, se eu quisesse continuar crescendo pessoal e profissionalmente”, relata.
E que bom que ela perseverou. Durante a licenciatura em Geografia, foi aluna bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), ciclo 2018 – 2019, sob orientação do professor Paulo Ricardo Petter Medeiros, do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema), e atuou na pesquisa que buscava estimar o fluxo de nutrientes e material em suspensão do rio Paraíba do Meio, situado em Alagoas. As atividades eram desenvolvidas no Laboratório Integrado de Ciências do Mar e Naturais (Labmar) da Ufal. “A partir dessa experiência, tornei-me membro do Núcleo Temático de Pesquisa Hidroambiental do Baixo São Francisco. O meu TCC [trabalho de conclusão de curso] foi seguindo essa temática, sob orientação do professor Paulo Ricardo, e, posteriormente, no mestrado”, detalha.
A identificação com a área foi crescendo e, ainda cursando mestrado, ela inciou o bacharelado em Geografia, continuando como aluna bolsista do Pibic, ciclo 2021 – 2022, dessa vez, sob orientação da professora Gilcileide Rodrigues da Silva (Igdema). “Desenvolvi pesquisa voltada à Geografia da Saúde e ao contexto territorial da pandemia da covid – 19 nos estados da região Sudeste do Brasil. Atualmente, sou aluna bolsista Pibic ciclo 2022 – 2023 nesta mesma temática, só que agora voltada para os estados da região Norte do Brasil, sob a mesma orientação”, relata.
Da Ufal para o Inpe
A possibilidade de seguir a carreira acadêmica já era algo pensado por Nayara, mesmo que de uma “forma superficial”, e foram as oportunidades encontradas na Ufal que tornaram o pensar em realidade. E esse percurso acadêmico foi se concretizando de forma contínua: ela concluiu a licenciatura e logo iniciou o mestrado. Na busca do título de mestre, já começou o bacharelado. E ainda trabalhando nos dados para obter o grau de bacharel em Geografia, vai em busca do conhecimento e do título de doutora pelo Inpe.
“Estudando na Ufal, descobri novas habilidades, amadureci mais enquanto pessoa e intelectualmente. Conheci novas pessoas, professores com suas realidades de vida inspiradoras. Tudo isso permitiu a ampliação da minha visão de mundo. Concluí a graduação e dei sequência à vida acadêmica cursando o mestrado em Geografia, no qual obtive novos conhecimentos e novas experiências, os quais foram de extrema importância para que eu pudesse chegar até onde cheguei”, reconhece.
Ter um mestre atento às peculiaridades de cada aluno auxilia a potencializar as oportunidades. E o empenho de Nayara aos estudos foi logo notado pelo professor Paulo Petter. “Desde a iniciação científica, passando pelo TCC e dissertação, percebi a grande dedicação e capacidade intelectual dela. Percebi que ela tem grande futuro na Ciência. No início do ano, ela disse que ia tentar ingressar em um doutorado. Pediu-me para preencher carta de recomendação para o Inpe e assim o fiz. Depois ela fez a prova e foi aprovada. Fiquei muito feliz e orgulhoso”, conta o orientador e parceiro de vários artigos publicados.
A estudante da Ufal já está em São Paulo para fazer a matrícula no doutorado. As aulas começam em março. Lá, vai fazer parte do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Sistema Terrestre (PPG-CST), na linha de pesquisa Biogeoquímica Ambiental, e conta que o foco de seus estudos será uma temática atual e necessária: o diagnóstico da qualidade da água, a análise dos impactos socioambientais e dos desastres naturais em bacias hidrográficas do Brasil.
As expectativas de morar em outro estado e estudar em uma das instituições mais respeitadas do país são grandes e só não são maiores do que a saudade que já sente dos pais, seus grandes apoiadores. Por isso, Nayara mira na chance que está conquistando e quer aproveitar o quanto puder. “Sinto-me profundamente lisonjeada pela oportunidade de fazer parte do corpo discente do Inpe, que se destaca como o instituto mais avançado na área das ciências terrestres, sensoriamento remoto e pesquisas espaciais da América Latina”, ressalta.
Com uma trajetória de estudo trilhada no ramo da produção científica, ela fala com propriedade sobre o que pretende realizar durante seu doutorado: “Além de obter e produzir conhecimentos, quero dar continuidade na dedicação à pesquisa e ampliar a minha trajetória de vida acadêmica, científica e futuramente profissional, ciente dos grandes desafios durante o percurso dessa caminhada, em relação às disciplinas e à pesquisa, visto que o curso é de excelência da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. Quero prezar pela qualidade das minhas produções, com vistas ao leque de oportunidades que poderei ter”, detalha.
E para conseguir o que deseja, ela sabe que o esforço e a dedicação pessoal são essenciais. Por isso, pretende seguir com a rotina de estudos estabelecida desde a graduação. “Contando com o tempo em que estou assistindo às aulas, varia entre 12 e 14 horas. Às vezes, um pouco mais”, conta. E com o apoio da tecnologia, a doutoranda ainda vai seguir com as aulas do bacharelado na Ufal e com as pesquisas Pibic, em formato virtual.
*Com Ufal