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“Red Pill”: Semudh alerta para o crescimento de grupo de homens que ataca mulheres nas redes sociais e em programas de entrevista

Foto: Ascom Semudh

A internet e as redes sociais são as ferramentas mais democráticas para interação e emissão de opinião, sendo ainda mais importante o acompanhamento de pais e/ou responsáveis naquilo em que os menores estão consumindo online. Nesse sentido, a Secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) de Alagoas alerta para uma corrente de pensamento machista e misógina denominada “Red Pill” que vem crescendo na internet.

De acordo com a secretaria, a tendência está cada vez mais sendo disseminada entre adolescentes e jovens adultos nas principais plataformas de redes sociais, principalmente no Youtube e no Instagram.

Apesar do crescimento exponencial dos últimos meses, a “filosofia” não nasceu agora. Na verdade, o ideal machista foi criado após o filme “Matrix”, lançado em 1999, quando Neo, interpretado por Keanu Reeves, tem que escolher entre a pílula azul, que mantém a ignorância do personagem no mundo de Matrix, ou a pílula vermelha (daí red pill, em inglês), que representa a verdade e o autoconhecimento e, no caso, a saída do mundo fictício.

Trazendo para a vida real, os “red pillados”, como gostam de se autodenominar, seriam homens que se opõem ao “sistema que favorece as mulheres”, por acreditarem que a sociedade, com a ampliação dos direitos femininos, fez com que os homens se tornassem corpos descartáveis, vítimas de injustiças sociais e objetos de pressão física e mental constante. Já os “blue pills” vivem em ilusão e, portanto, continuariam sendo usados pelas mulheres.

Em uma rápida pesquisa, foi possível encontrar centenas, podendo ser até milhares, de conteúdos deste tipo e com milhões de visualizações contabilizadas. Em um vídeo no Youtube do canal “Papo Mil Grau”, com mais de 105 mil visualizações, um destes “coaches de relacionamento” ataca as mulheres de forma agressiva as comparando com um carro.

“Mulher bonita dá muita dor de cabeça. É como um carro importado, mano. O seguro é mais caro, o IPVA é mais caro, a manutenção é mais cara. Se bater você fala assim: ‘Puta merda! (sic) Bateram no meu carro aqui, vai custar uma nota para arrumar!”, disse um dos convidados. “Nenhum homem quer estar com uma mulher feia (…) Não vamos ser hipócritas aqui e falar: ah, eu quero estar com uma mulher horrorosa do lado”, complementou.

Em um outro vídeo com um convidado diferente, ele diz que “a filha que der (sic) para um homem e não casar com ele, a chance de você ser uma boa mãe ou uma boa esposa cai pela metade (…) a capacidade dela amar cai a cada homem que ela se relaciona”.

Para a psicóloga do Centro Especializado no Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ceam), Yasmin Lima, este tipo de pensamento pode envolver comportamentos associados a frustrações sofridas em relacionamentos amorosos ou até mesmo familiares.

“Se o sujeito não teve um bom relacionamento com a mãe na infância, a qual é aquela figura que ele tira como padrão feminino, isso pode provocar traumas e cicatrizes em relacionamentos futuros, o que pode acabar se tornando um ciclo de frustrações. Relacionamentos frustrantes também podem promover esse discurso agressivo e injustificável contra as mulheres”, explicou a psicóloga.

Internet não é terra sem lei

Recentemente, um desses influenciadores ameaçou de morte, por meio de rede social, uma atriz que debochou de homens que têm discurso de ódio contra mulheres.

“Vc (sic) tem 24h para retirar seu conteúdo sobre mim. Dps (sic) disso é processo ou bala. Vc (sic) escolhe”, disse. A atriz realizou um boletim de ocorrência em São Paulo após ameaça e ainda relatou ter recebido mais de dez ligações por parte do coach.

Para a superintendente de Polícias para a Mulher, Elida Miranda, os conteúdos reproduzidos por “red pillados” são crimes e eles precisam responder por incentivar a violência de gênero.

“A internet é um lugar de interações sociais e as pessoas precisam ser responsabilizadas pelo que fazem. Ela [internet] não pode ser usada para espalhar, estimular e incentivar a violência. A partir do momento que eles produzem conteúdos e comentários em que a mulher é vista como um objeto, isso precisa ser impedido”, disse.

Elida ainda repudia todo e qualquer material que aja em favor de qualquer tipo de violência e alerta aos responsáveis. “Os pais e mães podem sim impedir seus filhos menores de idade de assistir esses conteúdos, além da responsabilidade de quem produz em indicar a classificação indicativa para pessoas que possam construir suas opiniões e embasamentos do que está sendo dito”.

“Também existem os próprios mecanismos das plataformas de denúncias para que aquele conteúdo abusivo seja retirado, pois apologia ao ódio e ao preconceito não é liberdade de expressão”, concluiu.

*com Ascom Semudh