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De um relacionamento abusivo à rendeira de celebridades de Alagoas: conheça a inspiradora trajetória de Adriana Gomes

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Quarenta e quatro anos de idade, dos quais, 38 são dedicados ao bordado. Natural do Pontal da Barra, Adriana Gomes aprendeu o ofício na infância vendo a mãe e outras rendeiras trabalharem na porta de casa. De lá para cá, foram quase quatro décadas de muito trabalho, dificuldades, superação e orgulho.

Superação que começou cedo. Realidade de grande parte das mulheres no país, ela conta como se arriscou para se livrar de um relacionamento abusivo ainda na adolescência.

“Casei aos 15 anos de idade, grávida da minha filha e fui morar longe da minha família, o que foi muito difícil. Meu casamento era com um homem que me prendia em casa, não deixava eu ir para lugar nenhum e nem podia falar com ninguém. Um belo dia aproveitei que ele foi trabalhar e fugi de casa de madrugada, voltei pra casa dos meus pais que graças a Deus me aceitaram”, conta.

O caminho continuou impondo alguns obstáculos à Adriana que, apesar de saber bordar desde criança, não fez do filé o seu primeiro ofício. “Como mãe solteira passei muita dificuldade. Trabalhei como vendedora no pontal, vendi cocada, suspiro, até abri lojinha de doces. Depois comecei a focar no bordado e só depois de um tempo que abri minha lojinha de filé”, relembra.

“As pessoas não entendem o trabalho das rendeiras”

Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas desde 2014, o filé vem conquistando reconhecimento e se transformando em objeto de desejo de grandes marcas e de nomes famosos. Mas nem sempre foi assim. “O filé até pouco tempo atrás era usado só para fazer toalhas de mesa, passadeiras. Ele é um trabalho manual, delicado, demorado e não é fácil trabalhar com arte manual, a gente sabe que as pessoas não entendem e não valorizam o trabalho das rendeiras”, conta Adriana.

Com a ascensão desse tipo de bordado e com a ajuda das redes sociais, pouco a pouco a empreendedora foi trilhando seu sucesso. “Através das mídias sociais têm sido mais fácil de conhecerem nosso trabalho, meu foco hoje é vender pelo Instagram e foi por ele que consegui chegar tão longe, não dá para depender só de quem vem na loja comprar”, explica.

Divulgação no Instagram tem sido o diferencial

E foi justamente através da rede social que a equipe do portal Eufemea conheceu o trabalho da rendeira que vestiu, recentemente, a primeira-dama da cidade de Maceió com um dos seus looks de carnaval, mas não foi só ela que se rendeu aos encantos do filé da Adriana: “tem gente que conhece e valoriza muito o nosso trabalho e isso me dá orgulho, é uma arte que passa de geração para geração, é uma arte da família e do bairro. Hoje posso falar que vesti a primeira dama, a Marina Ferrari, Ângela Maciel, Amanda Luquini, Maísa Carla, tudo graças ao foco que tenho dado à divulgação no Instagram”.

Mas seu mérito não vem só da divulgação, a empreendedora também se orgulha do olhar diferenciado da produção das suas peças. “Há muitas peças em filé no pontal, mas meu trabalho é focado na moda jovem, pesquiso muito o que está no auge e transformo em bordado filé. Meu objetivo é mostrar que o filé veste qualquer idade e qualquer ocasião, mesmo que seja em vestido de noiva, formatura”, afirma Adriana.

“Hoje tenho loja própria, loja que alugo, casa que também alugo pelo bairro. Tudo fruto do meu trabalho e de determinação. Costumo dizer às mulheres que não desistam e nem deixem qualquer homem ou qualquer pessoa atrapalhar a sua vida”, completa.

Meline Lopes

Meline Lopes

Jornalista, advogada, especialista em comunicação e em marketing digital. Atuou como repórter de televisão durante 9 anos em diversas emissoras do Brasil. É repórter do Eufêmea.