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Mulheres na música alagoana: a incansável luta e crescente ocupação de espaços nos palcos

Reportagem de Míriam Pimentel*

Foto: Ruy Guimarães

A batalha das mulheres pelo alcance de seu próprio espaço e legitimação é intensa em todas as esferas, e na música não poderia ser diferente. Em uma cultura que constantemente inferioriza as mulheres, é comum assistir a espetáculos musicais onde predominantemente homens estão tocando e cantando, além de assumirem a produção e o manuseio dos pesados equipamentos.

Apesar dessas dificuldades, no cenário musical alagoano, estamos presenciando um aumento da presença feminina à frente dos palcos, resultado de dedicação incansável e busca por reconhecimento.

Nomes como Naná Martins, Banda Brio, Fita K7, Kel Monalisa e Wilma Araújo ganham destaques nas casas de show de Alagoas e na mídia. Lá atrás, nos anos 70, Leureny Barbosa abriu caminho como uma referência pioneira na música alagoana e tropicalista.

Trio de mulheres
Foto: Carol Kele

Conversamos com a Banda Brio, um trio composto por Virgínia, Andressa e Nathalya. Com 5 anos de atuação, o grupo formado exclusivamente por mulheres se autodenomina “MBB (Música Bonitona Brasileira)” e tem como objetivo promover o empoderamento necessário para que garotas se tornem musicistas.

“Mulheres instrumentistas são raras, especialmente em Alagoas. Nossa intenção é ter mais integrantes e envolver cada vez mais mulheres na arte”, explica Virgínia.

Além do incentivo externo que procuram fornecer, a banda busca constantemente o aprimoramento interno: Andressa é a responsável por equalizar os instrumentos e Nathalya vem se descobrindo como multi-instrumentista. Essa qualificação se deve ao fato de já terem enfrentado hostilidade masculina em alguns ambientes em que se apresentaram.

“Já pedimos ajuda a homens e sentimos uma espécie de boicote, por isso sentimos a necessidade de nos especializarmos”, relembra o grupo.

“Também tentamos conseguir oportunidades para tocar em alguns lugares e não recebemos retorno”, acrescenta.

Mulheres negras precisam de mais espaço
 Foto: Assessoria

Também conversamos com Naná Martins, cantora e compositora de música afro-brasileira. Ela canta há 13 anos e começou sua carreira no Coletivo AfroCaeté, onde compartilhava os vocais com outros participantes.

Atualmente em carreira solo, Naná se apresentou em vários bares, rodas de samba e já abriu shows de outros artistas, como Daniela Mercury, onde cantou para um público de aproximadamente 50 mil pessoas.

“Foi o segundo maior show da minha carreira solo e acredito que tenha sido a experiência mais marcante da minha vida. Nunca imaginei que estaria cantando para tanta gente”, relembra a artista.

Naná acredita que as mulheres estão ocupando cada vez mais o palco. Para ela, muitas cantoras estão presentes nos espaços musicais e culturais e são referências na música do estado, mas ela se preocupa com a inclusão das mulheres negras nesse panorama.

“Quantas mulheres negras você vê na música alagoana? São pouquíssimas e não por não terem sons maravilhosos, mas por não terem espaço”, relata a cantora.

Para além de seu papel enquanto cantora, Naná entende que sua voz tem função social. Seu propósito e maior desafio é reivindicar pelas mulheres negras, para que possam conseguir oportunidades em grandes projetos na música.

“Nós, mulheres negras, não somos a imagem que os grandes do mercado querem colocar em visibilidade. Muitas mulheres começam e não têm apoio, acabam desistindo no meio do caminho, isso me dói”, enfatiza.