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Onda de assaltos, assédio, falta de iluminação: alunas compartilham rotina de insegurança na UFAL

“Já ouvi sobre assaltos e tenho amigas que foram assediadas dentro da universidade”. Dessica Menezes é uma das alunas que frequenta o Campus sempre em estado de alerta. Estudante de jornalismo do quarto período, ela conta que seu bloco é rodeado por mato, o que amplia a sensação de insegurança e que, por isso, costuma adotar algumas estratégias com medo que o pior aconteça.

Foto: Cortesia

“Principalmente por ser mulher, evito ficar sozinha lá dentro e quando a UFAL está mais vazia, por algum feriado, por exemplo, pedimos ao professor para fazer aula online já pensando nessa questão de acabar sendo mais esquisito”, relata.

Outra aluna do curso de jornalismo, Bianca Pimentel, compactua do mesmo sentimento de Dessica. Ela está no sétimo período e afirma que recentemente houve uma onda de assaltos no IQB – Instituto de Química e Biologia, que fica próximo ao de comunicação, deixando os alunos aflitos.

“No meu bloco, a iluminação é muito precária e, principalmente à noite, isso causa uma sensação de insegurança muito grande, fora alguns casos de assédio que vieram a público recentemente, acredito que a soma de tudo isso torna a UFAL um ambiente bastante inseguro pra mim”.

“Já tentamos conversar, mas não houve retorno”
Foto: Cortesia

Bianca costuma adotar as mesmas estratégias que a colega, no entanto, teme que a falta de mobilização dos gestores da universidade possa afetar diretamente seus estudos.

“Já houve várias mobilizações para tentativas de conversa com o reitor sobre a questão da iluminação lá no bloco e nas proximidades, mas até agora não tivemos retorno. Pensei seriamente em parar de pagar matérias no período da noite porque a partir das 21h é muito arriscado caminhar e pegar ônibus, especialmente para nós, mulheres”.

Perseguida dentro do Campus

Outra aluna, que prefere não se identificar, foi perseguida e ameaçada dentro do Campus. Ela conta que sonhava em estudar numa universidade pública e escolheu sair do seu estado natal e vir cursar em Alagoas, longe da família, para se desafiar, crescer e adquirir experiência, mas acabou retornando com sérios traumas na bagagem.

“Aluguei uma casa no Santo Dumont, próximo à faculdade, a dona assegurou que o bairro era seguro, que os vizinhos eram pessoas respeitáveis em que eu poderia confiar. Contratei um serviço de internet, essencial para meus estudos, e o instalador, um vizinho, dizia estar ocupado durante o dia e que só poderia instalar à noite”, relembra.

“Depois disso, a conexão começou a falhar constantemente, forneci meu número de telefone acreditando que isso fazia parte do seu serviço. Logo, as mensagens foram além de meras instruções, tornando-se cada vez mensagens mais insinuantes”.

Assédio virou ameaça de morte

A estudante relatou o desconforto à proprietária, bloqueou o contato e pediu outra opção de internet, mas foi aí que o assédio se transformou em ameaça de morte. “O indivíduo começou a me vigiar, acompanhando meus movimentos quando eu saía e chegava a casa. Ele estava presente em várias ocasiões durante o meu trajeto e começou a entrar na UFAL para me perseguir, tanto nos estacionamentos, quanto no portão de saída”, conta.

“Recorri à reitoria, aos professores e colegas em busca de ajuda e eles sempre foram muito solícitos, apesar de não poderem intervir diretamente para garantir minha segurança pessoal, principalmente pelo Campus ser público e de livre acesso. Permitiram que eu não fosse mais à faculdade e cumprisse as aulas remotamente, retornei para meu estado e para a casa dos meus pais temendo pela minha vida”.

“Ela sacou uma faca contra mim”

Essa medida extrema se deu após dois atentados sofridos pela aluna em julho deste ano. “Uma noite, depois de ter ficado na faculdade até um pouco mais tarde, fui surpreendida por ele ao descer de um Uber. Ele se lançou sobre mim, empurrando-me contra a parede, fazendo perguntas intrusivas, como “por que me bloqueou?”, “por que não fala comigo?” e “por que quer mudar a internet?”. Infelizmente, outros vizinhos estavam presentes, mas não intervieram”, relembra.

Ela contou que recebeu uma ligação da esposa dele que a ameaçou de morte. Com o passar dos dias, ela disse que se sentiu insegura, especialmente na faculdade, onde notou a presença de indivíduos estranhos.

“O pior ocorreu em uma segunda-feira, quando voltava de lá e senti que estava sendo seguida, foi quando um carro se aproximou e a mulher saiu de dentro dele e sacou uma faca. Ela passou raspando e só consegui escapar porque a porta de casa abriu rápido. A mulher foi embora proferindo ameaças”.

“Desisti da UFAL, mas não do meu sonho”

A estudante desistiu da UFAL e conta que após o término do período de aulas remotas, terá que fazer transferência para uma instituição da sua cidade, mas sempre que pensa em voltar para a universidade, as lembranças e o medo se tornam presentes. “Levei duas semanas para conseguir dormir à noite, pois o temor de estar sendo vigiada ou seguida me assombrava”.

“Não desejo interromper minha trajetória acadêmica, embora este seja um período desafiador. Estou perseverando e os professores e coordenadores têm sido um pilar crucial nesse processo. Espero ter a oportunidade de reencontrar todas as pessoas que me ajudaram e retomar meus estudos tendo a certeza de minha segurança dentro e fora do Campus”, completa.

O que diz a UFAL?

A nossa equipe conversou com o pró-reitor estudantil, Alexandre Lima, que esclareceu, por meio de nota, alguns pontos relacionados às demandas da comunidade acadêmica. Publicamos as informações na íntegra às nossas leitoras abaixo:

No mês de agosto, a Ufal promoveu campanhas em alusão ao Agosto Lilás, mês dedicado ao combate ao assédio contra mulheres. (https://ufal.br/ufal/noticias/2023/8/agosto-lilas-comeca-na-ufal-com-discussao-sobre-assedio-contra-mulheres )

Importante destacar que a Ufal já tinha publicado uma cartilha de combate ao assédio moral e sexual.

O documento foi devidamente atualizado (https://ufal.br/servidor/noticias/2020/1/cartilha-de-combate-ao-assedio-moral-e-sexual-e-atualizada ), após a aprovação da Resolução 84/2019 do Conselho Superior Universitário (Consuni), que disciplina princípios e regulamentos a serem adotados na prevenção e em casos de assédio e formas de discriminação e preconceito, no âmbito da Ufal.

A Ufal está se articulando para reativar a Sala Lilás, que estava instalada no Campus A.C. Simões, bem como ampliar esta ação para os campi do interior.

Atualmente, os casos de assédio são tratados no âmbito das Unidades Acadêmicas e/ou Gabinete Reitoral, através de processos administrativos de apuração dos fatos e, se for o caso, constituição de comissão de sindicância.

A Pró-reitoria Estudantil (Proest) também oferece o serviço do acolhimento psicossocial para os seus estudantes.

Em relação à questão da segurança no Campus de uma forma geral, a gestão superior da Ufal emitiu recentemente uma nota em relação a algumas ocorrências que foram registradas por estudantes e pela Gerência de Segurança Institucional (GSI-Sinfra) (https://ufal.br/estudante/noticias/2023/8/reitor-recebe-dce-para-tratar-de-medidas-de-seguranca-no-campus-da-ufal ).

A Gestão Superior da Ufal se reuniu com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e apresentou proposta de realizar audiência pública para discutir a segurança no campus e ressaltou que a gestão tem buscado um canal de escuta da comunidade, principalmente nas questões relacionadas aos estudantes.