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Em filme, Fernanda Montenegro fará papel de alagoana negra que ajudou a prender traficantes; escolha gera críticas

A alagoana Joana Zeferina da Paz, conhecida como Dona Vitória, viveu no anonimato forçado por 36 anos, dentro do Programa de Proteção à Testemunha. Sua identidade só foi revelada após seu falecimento em fevereiro de 2023. Agora, sua vida será retratada em um filme intitulado “Vitória”, produzido pela Globoplay. Contudo, o anúncio do filme gerou críticas nas redes sociais, dado que Joana era uma mulher negra e no filme será interpretada pela atriz Fernanda Montenegro.

“Vitória” é inspirado na obra literária “Dona Vitória da Paz”, que conta a história real de uma aposentada que desmontou uma quadrilha carioca de traficantes e policiais a partir de filmagens feitas da janela do seu apartamento no Rio de Janeiro. O filme tem estreia prevista nos cinemas para 15 de agosto.

Nas redes sociais, internautas criticaram o fato do filme ser interpretado por uma atriz branca. “O filme tem estreia prevista nos cinemas para 15 de agosto.

“Eu amo a Fernanda Montenegro, acho que ela é uma GIGANTE, mas é necessário comentar que “Dona Vitória” era uma mulher negra. Ela vivia no anonimato, e seu rosto só foi revelado após sua morte, quando o filme já estava em andamento. Espero que haja uma menção a isso na obra”, escreveu uma internauta.

Outro internauta também escreveu: “É indiscutível o talento de Fernanda Montenegro. Dito isto, com tanta atriz negra, tinha que ser ela a interpretar Vitória, a mulher negra que filmou e levou à prisão traficantes e policiais do RJ?”.

Quem foi Joana Zeferino?

De acordo com uma matéria do g1 Rio de Janeiro, Joana morava num apartamento, na Praça Vereador Rocha Leão, que dava para a Ladeira dos Tabajaras. Pela janela, começou a ver a movimentação de traficantes em uma boca de fumo.

O Extra apurou que ela entrou com uma ação contra o Estado devido à desvalorização de seu imóvel. A ideia de filmar veio para desmentir a alegação, dentro da ação judicial, de um coronel da PM, que disse que a moradora mentia sobre a existência do tráfico, que seria combatido pelo batalhão.

O que ela fez? Decidiu comprar uma câmera de filmar e gravar as cenas, isso lá no ano de 2003. Ela conseguiu flagrar traficantes armados vendendo drogas. Além disso, nas imagens também era possível ver policiais militares fazendo vista grossa para o crime organizado.

Ela entregou as fitas à Polícia Civil, que deu início à investigação. Com isso, mais de 30 pessoas foram presas.

E ela? Ingressou no no Programa de Proteção à Testemunha. Após isso, começou, ali, uma vida de “privações, angústia, desapego e resiliência”, contou o jornalista Fábio Gusmão: “O seu desejo, há anos, era ter o reconhecimento público”, escreveu.

  

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.