Colabore com o Eufemea

Quando uma mulher é assassinada, uma parte de todas nós também morre

“Até quando?”

Essa é uma pergunta que vejo quase sempre quando um caso de feminicídio acontece e repercute bastante. Geralmente, são os casos mais chocantes que ganham destaque, como o ocorrido com Valkiria ontem [assassinada dentro de um shopping em Maceió], com Marcelle Bulhões, morta a pedradas no Dia Internacional da Mulher do ano passado, ou Mônica Cavalcante, assassinada após gravar um vídeo [vale ressaltar que o autor do crime ainda está foragido].

Essa pergunta me afeta profundamente porque não há previsão para o fim desse problema, e não sei se conseguiremos “resolver” uma questão tão complexa, com múltiplas camadas: a construção social enraizada no machismo; o sistema patriarcal que perpetua a ideia de posse masculina sobre as mulheres; os julgamentos baseados nessa estrutura machista; o medo constante das mulheres (e aqui podemos citar medos emocionais também); a ausência de políticas públicas eficazes; e a necessidade de leis mais rígidas.

O mundo foi concebido e estruturado para os homens. Nós, mulheres, fomos criadas para silenciar, obedecer e satisfazer as vontades masculinas. Embora possa parecer uma afirmação radical à primeira vista, basta analisar o mundo ao nosso redor: quem se beneficia mais com o status quo? Quem detém o poder de criar as leis? E quem assume a responsabilidade de cuidar do lar e da família enquanto os homens estão no trabalho?

Esse sentimento de posse, de “se ela não é minha, não será de mais ninguém”, é uma crença de que os homens têm o direito de controlar, dominar e até mesmo dispor das vidas das mulheres. Quando uma mulher nega essa “propriedade” masculina, ela se torna um alvo. Afinal, como pode uma mulher dizer “NÃO” a um homem?

E nós, mulheres, qual é o nosso papel? Estamos realmente ajudando aquela amiga que está em uma relação abusiva ou apenas fazemos comentários que julgam a “escolha” dela, como se a relação dependesse apenas dela? Já conversamos com ela para que busque ajuda ou apenas a incentivamos a não buscar, porque é melhor ter uma família do que ficar sozinha?

Será que nos unimos às causas femininas ou criticamos os movimentos que lutam por nós? Será que essa nossa “luta” surge apenas quando um caso repercute na imprensa e depois se dissipa, ou é algo constante?

Nas ruas, em nossas casas, até mesmo dentro de estabelecimentos. A violência nos tira a vida todos os dias. Não há dia, hora ou lugar seguro quando se é mulher. Estamos constantemente sob ameaça. Gritamos por socorro, mas nossas vozes são silenciadas, nossos pedidos ignorados e até mesmo julgados.

O “Até Quando” não tem previsão. Mas se não tomarmos consciência de que paradas não resolveremos nada e de que sem união, não chegaremos a lugar algum, ficaremos apenas assistindo as mulheres morrerem. Precisamos urgentemente lutar. Não há outra palavra para isso que não seja “luta”. E eu acredito que cada mulher pode lutar com as armas que tem: seja por meio do seu trabalho, sua voz, ajudando outras mulheres ou se juntando aos movimentos.

Lute. Não pare. Porque quando uma mulher é assassinada, uma parte de todas nós também morre.

LEIA MAIS: Saiba como denunciar casos de violência doméstica em Alagoas

Estou no Instagram: @raissa.franca

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.