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Como lidar com as mudanças corporais e emocionais após o diagnóstico do câncer de mama?

Desde o diagnóstico do câncer de mama até o tratamento, as mulheres enfrentam uma série de mudanças físicas e emocionais. A perda de cabelo devido à quimioterapia, as cicatrizes resultantes da cirurgia e as alterações no corpo causadas pela mastectomia podem mexer com a imagem corporal e a autoconfiança.

Na reportagem divulgada ontem, que contava a história de Gerlane dos Santos Nemezio, 44 anos, assistente social e estudante de psicologia, ela disse que um “par de seios não define uma mulher”. Gerlane fez mastectomia bilateral. Para ela, o procedimento não foi uma escolha, mas uma necessidade devido ao histórico familiar de câncer.

Gerlane é uma das mulheres entrevistadas para a campanha do Eufêmea em parceria com a marca Alma de Sereia. A campanha “Cada corpo tem sua história” tem o objetivo de destacar e honrar as jornadas individuais das mulheres em relação à autoaceitação e ao amor-próprio. Além das mulheres entrevistadas para o portal de notícias, o Eufêmea também entrevistou mulheres para vídeos que serão publicados nas redes sociais.

Como lidar com essas alterações no corpo e qual o impacto psicológico que o diagnóstico pode ter na autoestima da mulher?

Ao Eufêmea, a psicóloga clínica e hospitalar com ênfase em Oncologia e Cuidados Paliativos, Larisse Raizza Santos Cavalcante Cunha (CRP 15/4619), disse que o diagnóstico e tratamento de câncer, de forma geral, ocasionam mudanças psicossociais.

“Assim, é muito comum o surgimento de sentimentos como medo, angústia, ansiedade, preocupação, entre outras emoções relacionadas à doença. Tais aspectos impactam diretamente na autoestima das mulheres em tratamento oncológico.”

A psicóloga explica que isso interfere em como a mulher se enxerga, enxerga o outro e o mundo. “Em outras palavras, modifica a maneira como elas se percebem, influencia as suas tomadas de decisões e motiva ou desestimula a construção de estratégias de enfrentamento necessárias, de acordo com a vivência de cada uma”.

No processo de tratamento, as mulheres enfrentam muitos desafios. Dentre eles, destaca-se o sofrimento psíquico em relação à alopecia e à mastectomia. A alopecia, caracterizada pela perda significativa de cabelo, é um efeito colateral comum durante o tratamento quimioterápico do câncer de mama.

“É comum que logo após receber o diagnóstico ou durante as primeiras consultas com a equipe de saúde, as pacientes perguntem: ‘Meu cabelo irá cair?’. Essa pergunta surge por diversas razões, mas, na prática, percebe-se que, na maioria das vezes, está relacionada ao medo do preconceito e dos estigmas sociais que possam enfrentar no dia a dia”, explica a psicóloga.

A mastectomia, por sua vez, representa uma etapa crucial do tratamento oncológico. Pode ser realizada de forma unilateral ou bilateral, conforme a necessidade específica de cada paciente.

“Além das emoções relacionadas ao processo cirúrgico em si, surgem os sentimentos em relação ao corpo que se apresenta no momento presente, incluindo a autopercepção da própria imagem e a disponibilidade ou falta de recursos para escolher como enfrentar esse processo”, afirma.

Quais são as estratégias?

Para a psicóloga, a busca pela informação é uma das principais estratégias para lidar com a autoestima em qualquer fase do tratamento. “Alguns receios, medos e angústias sobre o câncer estão relacionados com histórias que ouviram, informações encontradas em fontes não confiáveis e aspectos culturais”.

Outra estratégia importante é participar de grupos de apoio formados por mulheres em tratamento e profissionais da saúde mental.

“Compartilhar experiências e vivências pode se transformar em uma rede de apoio que amplie a sensação de pertencimento, afeto e cuidado. Entretanto, é fundamental verificar se o grupo de apoio é monitorado por organizações de câncer com credibilidade e quais são as políticas de privacidade utilizadas”.

Outra possibilidade é o acompanhamento terapêutico por profissionais da saúde mental de forma individualizada. “É importante frisar que não há um jeito certo de passar pelo processo de tratamento. Cada caso é único, as histórias de vida são diversas, assim como as estratégias e escolhas de cada mulher”.

Prótese mamária devolveu autoestima

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Marluze Costa, 74 anos, descobriu que estava com câncer de mama em 2023. Ela fez mastectomia unilateral da mama direita este ano. Ela sente falta do peito, como revelou ao Eufêmea, mas disse que sentiu uma melhora quando pegou uma prótese mamária artesanal na Rede Feminina de Combate ao Câncer.

“Sinto muita falta dele, muita, muita. Estava me fazendo mal, mas ainda sinto a falta dele”, disse. Ela contou que além da prótese, também recebeu almofadas de coração produzidas na Rede, e que essas almofadas ajudam-na a ter um conforto melhor.

Com a prótese, Marluze garante que sua autoestima melhorou. “Sinto que as pessoas não ficam me olhando. Devolveu minha autoestima”.

Antes da prótese, ela disse que sentia vergonha de sair de casa por medo e vergonha das pessoas. “Hoje, depois de ter buscado, não tenho mais vergonha”.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.