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Mulher magra, branca, cabelo liso: como a mídia reforça a construção do padrão de beleza

Reportagem: Maria Villanova*

‘Padrão de beleza’. Pele clara, cabelos lisos e alta estatura, aliados a uma estética magra, foram inseridos no Brasil de forma sistêmica, também incentivados pela mídia. A história demonstra o quanto esse padrão foi sistematicamente imposto, cultuado e valorizado. Qual o papel da mídia nesse processo de construção de padrão de beleza?

Ao Eufêmea, Amanda Dias, historiadora paraibana, explica que essa influência eurocêntrica se tornou ainda mais evidente com a ascensão da mídia de massa, que disseminou imagens idealizadas de beleza por todo o país.

Foto: Cortesia ao Eufêmea

“A partir dos anos 50, observamos uma tendência em direção aos chamados ‘concursos de beleza’, nos quais padrões eram estabelecidos, incentivando as mulheres desde cedo a internalizarem uma ideia predefinida do que era considerado belo. Essas imagens foram disseminadas ao longo do tempo por meio de propagandas, capas de revista, folhetos e, eventualmente, evoluíram para uma mídia mais imediata por meio das redes sociais”, conta.

Amanda também relata como a mídia, ao longo dos períodos históricos, se utiliza das mulheres para retratar a concepção que desejam transmitir. O ideal feminino está intimamente ligado ao contexto social em que a sociedade se encontra, e sua disseminação leva as mulheres a tentarem se adaptar ao que é visualizado.

“Como exemplo, quando a mulher começa a trabalhar fora, seu corpo se molda à tendência da ‘mulher moderna’, diretamente relacionada à moda, enquanto na antiguidade a mulher é retratada com seios fartos e quadris largos, associados ao papel de dona de casa”, diz.

A disseminação da internet, entretanto, fez com que esse papel de divulgador, antes exclusivo de uma minoria, além do aumento do acesso a informações e da acessibilidade a diferentes pessoas, ocasionou uma disseminação de diferentes corpos e questionou sistematicamente esse padrão de beleza, em um movimento crescente de resistência.

“Eu poderia falar sobre o movimento das mulheres negras que, todos os dias, tentam quebrar o padrão eurocêntrico imposto pela sociedade. Mulheres gordas lutam pelo seu direito de existir, enquanto outras têm o direito de ir e vir. Muito se fala sobre a ‘romantização da obesidade’, mas posso dizer: isso não existe. O que existe é uma romantização da magreza, onde todas as pessoas magras são, teoricamente, saudáveis e vivem em um mundo onde tudo é feliz”, reforça.

Segundo ela, a indústria da moda gira em torno desse padrão. “A sociedade foi construída para ser moldada no padrão da mulher magra, branca, de cabelos lisos. Quebrar essa ideia é um grande desafio”.

As redes sociais têm um papel importante na luta contra os padrões estabelecidos. Elas podem ajudar ou não.

Influenciando nas redes sociais

Foto: Cortesia ao Eufêmea

A jornalista carioca Mariana Rodrigues, influenciadora digital há 9 anos, tem como um dos objetivos mostrar às mulheres fora dos padrões que o corpo delas não deve influenciar como vivem, se vestem ou se relacionam. Há 10 meses, com a chegada do pequeno Sebastian, seu primeiro filho, a maternidade também passou a figurar entre os temas apresentados.

“Na verdade, eu foco pouco em falar sobre padrões, porque acredito que agir com naturalidade em relação ao meu corpo é a melhor maneira de promover a autoaceitação e busco inspirar outras pessoas”, diz.

Para Mari, as mídias tradicionais ainda mantêm uma visão conservadora em relação à diversidade de corpos, refletindo padrões estreitos e excluindo uma gama significativa de identidades. Por isso, o papel de um influenciador é tão importante.

“Cabe às influenciadoras mostrar que outros padrões também têm direito de se vestir, de ocupar espaços que antes eram negados, e de se relacionar de maneira saudável”, pontuou Mari.

Corpo magro traz felicidade?

Foto: Cortesia ao Eufêmea

Existe uma ideia de que o corpo magro traz felicidade. Isso também é propagado pela mídia. Segundo a psicóloga Márcia Azambuja, os distúrbios alimentares mais comuns associados à influência da mídia são a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), levando a conflitos emocionais muitas vezes relacionados à busca desenfreada por controle sobre o próprio corpo e à tentativa de alcançar os padrões de beleza impostos pela sociedade.

“De acordo com a minha experiência, não há um único caso em que não apareça a temática das redes sociais e/ou das mídias como um fator disparador para o adoecimento entre a questão da busca pela perfeição da imagem e da percepção corporal. Quem nunca viu um influenciador com uma pele perfeita repleta de filtros, ou uma famosa em pleno puerpério exibindo um belo corpo?”, questionou.

Segundo a psicóloga, estas situações podem gerar sentimentos de inadequação e vulnerabilidade, afetando negativamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida das pessoas.

Sinais de que pessoas estão sendo afetadas

Para Márcia, diversos são os sinais de que alguém pode estar sendo afetado negativamente pela pressão da mídia: preocupação excessiva com o corpo, restrição alimentar por conta própria e uso de automedicação para controle de peso.

“Também chamo a atenção para quem constantemente tem um comportamento queixoso em relação ao próprio corpo, pratica muitas horas de atividade física ou deixa de frequentar determinados passeios e lugares por medo de desaprovação”, explicou.