“O Brasil é o país que mais mata e mais consome pornografia trans, essa é a realidade do nosso país. Nossos corpos são vistos pela sociedade com um olhar muito ruim, mas o que eles puderem tirar da nossa vida, dos nossos corpos, dos nossos trabalhos, as melhores coisas eles vão tirar. Esse é o Brasil e isso é muito triste”, disse a cabeleireira, maquiadora e mulher trans, Maria Vitória dos Santos, de 30 anos.
Maria é uma das mulheres entrevistadas para a campanha do Eufêmea em parceria com a marca Alma de Sereia. A campanha “Cada corpo tem sua história” tem o objetivo de destacar e honrar as jornadas individuais das mulheres em relação à autoaceitação e ao amor-próprio. Além das mulheres entrevistadas para o portal de notícias, o Eufêmea também entrevistou mulheres para vídeos que serão publicados nas redes sociais.
Reconhecimento de quem se é
A história da alagoana começa em São Luís do Quitunde, no interior do estado. Foi aos 16 anos que ela iniciou o processo de transição de gênero, quando ainda morava com sua mãe, avó e irmãos. Aos 17 anos, ela decidiu sair do interior e dar continuidade ao processo de transição em Maceió.
“Eu comecei a tomar os hormônios aos 16 anos e logo comecei a sentir diferenças no meu corpo. Comecei a reter líquido, a desenvolver seios que antes não tinha, e minha pele começou a ficar mais fina. Na época da minha transição, eu estava finalizando o curso de dança, que era o ballet clássico aqui em Maceió. Então, meus seios já estavam começando a crescer, e meu cabelo também”, relata a cabeleireira.
Para poder continuar suas aulas de dança, Maria Vitória decidiu se adaptar, utilizando uma faixa no seio para se sentir mais à vontade.
Após a conclusão do curso, prosseguiu com o processo hormonal e, aos 23 anos, optou por colocar próteses de silicone. No entanto, a aceitação social do seu corpo não veio sem desafios.
Pressão estética
“Eu recebi muitas críticas e as pessoas que me falavam diziam que isso era construtivo, era para o meu bem. Eu tinha amigas que falavam assim: ‘você está ficando estranha’, ‘você vai ficar feia’, ‘não faça isso, você não vai conseguir viver, porque a vida de travesti não é fácil’, mas eu fui ali me ajeitando, caminhando, eu não desistia”, conta.
Quando questionada sobre a pressão estética que sofre diariamente, ela afirma que hoje em dia, após as críticas, se sente realizada com seu corpo. “Pensei muito em fazer implantes de silicone nos quadris e no bumbum, mas desisti e preferi ir para a academia. Eu fui moldando meu corpo com a mulher que interiormente já estava em mim. Hoje me sinto mais à vontade e realizada com o meu corpo”, expõe.
Evolução corporal e emocional
Hoje, aos 30 anos, Maria Vitória sente-se uma mulher poderosa e acredita que está evoluindo dia após dia.
Em sua busca por empoderamento, a alagoana encontrou inspiração em mulheres fortes de sua vida, especialmente em sua mãe e avó. “Sou uma pessoa respeitada no meu trabalho, no movimento e entre meus amigos, onde também nos respeitamos muito”.
Além das conquistas profissionais, ela compartilha práticas diárias que a conectam consigo mesma. “Faço dança, faço teatro, faço musculação, faço corrida também, que eu adoro. Tudo isso me deixa muito tranquila e eu vou conseguindo me encontrar nas coisas que eu amo fazer. Às vezes a ansiedade vem, a mente pensa de tentar sabotar, mas eu não deixo”, conclui.