Foto: Carla Cleto
A violência, em suas diferentes formas, é um dos mais graves problemas de saúde pública e muitas vezes deixam marcas visíveis na boca, no rosto e no pescoço das vítimas. Nesse cenário, os cirurgiões-dentistas assumem papel fundamental não apenas no tratamento clínico, mas também na identificação, acolhimento e notificação de casos suspeitos ou confirmados.
A cirurgiã-dentista da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), Lisiane Torres, explica que o olhar atento dos profissionais da área é decisivo para proteger pessoas em situação de vulnerabilidade.
“O dentista tem um papel estratégico, pois consegue identificar lesões o que, muitas vezes, passam despercebidas em outros atendimentos. Quando suspeitamos de violência, fazemos a notificação compulsória e encaminhamos às autoridades competentes para que providências sejam tomadas, sempre garantindo o sigilo e a proteção da vítima”, destacou.
Ainda de acordo com Lisiane Torres, exemplos de diferentes regiões do país mostram como a atuação odontológica pode ser decisiva. Em Caxias do Sul (RS), o caso de uma criança de quatro anos agredida por uma professora só foi esclarecido após a avaliação de uma cirurgiã-dentista, que identificou lesões compatíveis com violência e desmentiu a versão de acidente.
Já em Natal (RN), uma mulher espancada pelo namorado precisou passar por cirurgia complexa de reconstrução facial, feita por um cirurgião-dentista bucomaxilofacial.
A intervenção foi essencial para restaurar funções como mastigação e fala, além de garantir melhores condições de recuperação. A cirurgiã-dentista esclarece ainda que outro ponto de atenção é a violência sexual infantil. Lesões na boca, hematomas em tecidos moles, fraturas dentárias e até sinais de infecções sexualmente transmissíveis podem ser identificados pelos profissionais de saúde bucal.
“O dentista não trata apenas dentes. Ele salva vidas. Nosso olhar pode identificar violências escondidas, dar voz às vítimas e garantir que elas recebam cuidado e justiça. Muitas vezes, os abusos são silenciados e a primeira pista aparece durante uma consulta odontológica. Por isso, precisamos estar preparados para reconhecer esses sinais e proteger nossas crianças”, reforçou Lisiane Torres.
A cirurgiã-dentista esclarece que o trabalho do cirurgião-dentista no enfrentamento às violências envolve diferentes etapas como a identificação dos sinais físicos, psicológicos e comportamentais compatíveis com violência; a notificação dos casos de forma sigilosa no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan); o encaminhamento para as autoridades competentes e para a Rede de Atenção à Saúde; além do acolhimento e reabilitação da vítima, reduzindo sequelas físicas e emocionais.
A coordenação estadual de Saúde Bucal da Sesau reforça a importância da atenção primária nesse processo, especialmente no cuidado de crianças, adolescentes, mulheres, idosos, pessoas com deficiência, população negra e comunidade LGBTQIA+, garantindo acolhimento integral e interrompendo ciclos de violência.
Além da Política Nacional de Saúde Bucal, o Brasil Sorridente avança no estado no cuidado da saúde integral da população, garantindo acesso, acolhimento e proteção contra todas as formas de violência.
*Com Assessoria