Foto: Jônatas Medeiros
Uma das mais celebradas autoras de livros sobre educação antirracista, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Bárbara Carine, 38 anos, ficou conhecida no país através do seu perfil no Instagram (@uma_intelectual_diferentona), com quase 700 mil seguidores.
Um feito nada fácil para quem trata de assuntos sérios nas redes sociais. O segredo do sucesso: usar linguagem simples e popular para disseminar conteúdo acadêmico e discussões aprofundadas sobre questões raciais, descoloniais e educação antirracista.
A proposta, segundo ela, é romper com a padronização e a linguagem inacessível muitas vezes impostas pelo meio acadêmico tradicional, mantendo sua identidade como mulher negra, nordestina e periférica.
Confira os principais trechos da entrevista dela à Rádio Bienal.
Como surgiu o perfil no Instagram?
No auge da pandemia da covid-19, em 2020. Estava muito solitária e saudosista da sala de aula e comecei a gravar uns vídeos e postar, tudo muito simples e caseiro, sem muitas pretensões. Acho, inclusive, que foi essa espontaneidade de falar de questões étnico-raciais e outros assuntos que atraiu os internautas.
Uma amiga disse que precisava de um nome mais atraente nas redes sociais para projetar meu trabalho. Fui dormir pensando e acordei com esse nome na cabeça: uma intelectual diferentona. Acabou dando certo. Fico muito honrada em ver que quase 700 mil pessoas estão interessadas no que tenho a dizer.
Você percorre o Brasil fazendo palestras. Qual a mensagem principal desses encontros com um público tão diverso?
Converso sobre intelectualidades cotidianas, marginais, periféricas. Sobre intelectualidades diversas. Uma intelectualidade que não performa dentro do escopo ocidental e brancocêntrico. Uma intelectualidade que não é eurocentrada. Não significa que a Europa não possa produzir intelectualidade. É sobre reconhecer outras intelectualidades para além desse marcador.
Falo também sobre estratégias de sobrevivência na academia, que muitas vezes é um espaço indócil para corpos subversivos, corpos e mentes subversivos. É preciso pensar nesse espaço construindo estratégias de pertencimento e de manutenção. Continuar a ocupar esses espaços. Mesmo que a maioria dos atores do cenário diga não, é preciso resistir.
Ainda há muita resistência às ações afirmativas dentro dos espaços acadêmicos?
As pessoas dos corpos vulneráveis, como negros, indígenas e trans enfrentam diversos momentos de ataques, inclusive na sua legitimidade. A gente tem tido alguns casos muito sintomáticos de que essa luta, que é coletiva, anda numa linha tênue de possíveis retrocessos. Essas políticas, que deveriam ser políticas coletivas, elas se tornam pessoalizadas. Enquanto tem um representante jurídico que coaduna com ela, uma política que é sistêmica, ela opera. Quando muda esse representante, uma política que é coletiva, ela é retirada de cena.
E quanto às cotas?
As pessoas cotistas têm notas que são qualificadas para serem aprovadas. Costumam utilizar o argumento de que só tem uma vaga e que, portanto, a vaga deveria ser puramente meritória, da pessoa que tirou a maior nota. Só que essas vagas são estabelecidas a partir de um edital global, no sentido das cotas.
Seu novo livro segue a luta antirracista na educação?
Eu acho que a intelectual diferentona flerta com muitos movimentos. Ela flerta com essa pluriversalidade, com essa coisa de um corpo que não se dissocia da mente, um corpo que dança, um corpo que opera no mundo a partir da sua própria espontaneidade. Essa intelectual diferentona escreve coloquialmente, ela escreve fora da academia. É disso que trata o livro.
Então, a escrita acadêmica tradicional lhe sufoca?
Eu percebi que a escrita acadêmica, para mim, era massacrante. Eu me sentia roubada de mim, eu me sentia desajustada na escrita. E sempre gostei de ler e escrever. Então, comecei a escrever com liberdade, uma escrita coloquial prazerosa, mas rejeitada pelos períodos tradicionais. Então, começo a escrever livros assim, para mim, isso se torna um grande elogio que, outrora, era um demérito. As pessoas passam a me dizer que leram o livro e me ouviram falar. Isso, para mim, é de uma alegria imensa.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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*Com Assessoria