Foto: Renner Boldrino
Na manhã desta quinta-feira (6) foi realizado mais um evento dentro da programação da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas: o 9º Encontro Nacional Nesem. A oficina Relações raciais no Brasil aconteceu na Sala Siriguela, sob a coordenação da professora da Universidade de Pernambuco (UPE), Janaina Guimarães; e a jornalista, pesquisadora e professora Sara Wagner, que mergulharam profundamente sobre questões de gênero, negritude e sexualidade.
Uma roda de conversa foi criada para uma maior dinâmica do encontro e em alusão a um dos maiores símbolos das raízes africanas: a comunidade e a busca pelo amor e o cuidado. E, antes de ministrar a aula, a professora Janaina sentou no chão em homenagem e reverência aos mais antigos e ancestrais negros, também pelo fato de estar presente a artista e pesquisadora, muito conhecida em Alagoas, Nadir Nóbrega.
A professora contou um pouco sobre o processo que passou na família. Os preconceitos enraizados mesmo tendo como porto seguro as tradições e saberes ancestrais. Imagens de quando ela era adolescente foram expostas durante a apresentação, evidenciando a forma como era a antiga Janaina e como ela era antes de ter consciência da sua negritude.
Ela também abriu discussões sobre a era colonial no Brasil, desde o tráfico humano realizado pelos portugueses até as discussões sobre raça e cor nos tempos de hoje.
Foram abordados assuntos como epistemicídio, a necessidade do aquilombamento, o branqueamento e a branquitude no país, a escravidão e a depreciação, o papel da igreja católica, a abolição formal da escravidão, a resistência da mulher negra, entre outros. Autoras pretas também foram citadas como parte conceitual da oficina, como Bell Hooks, Sueli Carneiro, Nilma Lino Gomes, Beatriz Nascimento e Virgínia Bicudo, que inclusive foi a primeira psicanalista negra do Brasil.
“Ninguém espera nada de uma mulher preta, a gente sempre tem que mostrar ser excelente. Se cometermos um errinho, somos deixadas para trás”, disse Janaina Guimarães, durante a oficina.
Para ela, o público do encontro foi diverso e interessante, o que a deixou entusiasmada.
“Isso demonstra que a universidade está alcançando um público que é bem maior que o seu público comum, o que me deixou contente. Os alunos foram muito participativos, tudo foi bem dinâmico e tivemos tempo e local apropriados para fazer esse minicurso. Fiquei feliz com os recursos, feliz com a parceria com a Sara. Acho que a Bienal está fazendo um bom trabalho no que está oferecendo ao público”, destacou a pesquisadora.
Cotas trans
Já Sara York chamou a atenção para a importância do debate sobre a questão da legitimidade de pessoas negras e trans dentro da sala de aula, e também agradeceu pelo convite ao evento. Questionada sobre a aprovação de cotas para pessoas trans na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a professora enfatizou a felicidade que é trazer mais garantias de que outras histórias possam ser contadas dentro da academia.
“Quando o aluno pergunta para o professor de História como que ele pode reconhecer sua identidade, seu lugar numa sala de aula, esse professor já sabe que ele pode falar a partir de uma lei, a partir de uma perspectiva que não só aquela branca europeia, mas uma perspectiva que agrega pessoas racializadas, sobretudo com atenção à negritude”, concluiu.
Um reencontro consigo mesma
Entre os visitantes da Bienal, estava a assistente social Larissa Gouveia, de 31 anos. Segundo ela, oficinas como essa a auxiliam a se reconectar consigo mesma e a se reconhecer como mulher negra.
“Eu vim para esse encontro com esse objetivo de conhecer a minha própria história, porque eu sempre vivia essa crise de identidade, de quem eu sou quanto mulher preta e eu ficava nessa dificuldade de realmente entender. Então eu fiz um movimento para pegar referências. Fiquei fascinada”, relatou Larissa.
Sobre os pontos que mais chamaram a atenção, Larissa Gouveia contou que o reconhecimento, o pertencimento e o acolhimento foram os maiores destaques no minicurso.
“Ver que têm pessoas que estão lutando também, para que esses assuntos, esses estudos sejam divulgados, é interessante demais. Espero que no futuro a minha sobrinha, a minha filha, que eu pretendo ter, tenha esse acesso mais facilitado, no qual eu não tive. Eu só vim ter realmente acesso de conhecer sobre negritude e me reconhecer como mulher preta na universidade, com 20 anos. Então para mim, poder chegar aqui e estudar livremente é uma oportunidade muito incrível”, celebrou.
*Com Assessoria