Falar sobre igualdade racial, justiça e enfrentamento à intolerância religiosa não é apenas necessário — é urgente. E foi exatamente com esse objetivo que a Câmara de Estudos Políticos da Vice-Governadoria de Alagoas promoveu, nesta segunda-feira (21), o debate “Igualdade Racial e os 05 anos da Delegacia Especializada em Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina”.
O encontro reuniu representantes do poder público, do sistema de justiça, da segurança, da academia e de movimentos sociais no auditório da Vice-Governadoria, para discutir os avanços e desafios no combate ao racismo e à violência contra religiões de matriz africana.
Na abertura, o vice-governador Ronaldo Lessa reforçou o papel político do espaço:
“É fundamental que a Vice-Governadoria, por meio da Câmara de Estudos Políticos, seja utilizada para promover debates como este, que colocam em pauta temas urgentes da sociedade. Precisamos garantir que esses espaços sejam acessíveis, plurais e comprometidos com a defesa dos direitos.”
Cinco anos de luta e acolhimento
A delegacia especializada que leva o nome de Yalorixá Tia Marcelina vem atuando desde 2019 na apuração de crimes como racismo, intolerância religiosa e outras formas de violência contra grupos vulnerabilizados. Segundo a delegada titular Rebecca Cordeiro, a atuação da unidade já representa mudanças concretas no atendimento às vítimas:
“A especialização da delegacia tem garantido avanços concretos na apuração dos casos e no acolhimento das vítimas.”
A delegacia também é uma conquista simbólica e política para os movimentos negros e de religiões de matriz africana, que há décadas lutam por visibilidade, justiça e respeito.
Quando o racismo está na estrutura
Quem também trouxe reflexões potentes foi Marli Araújo, vice-coordenadora do Neabi/Ufal (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas). Em sua fala, ela apontou como o racismo ainda estrutura práticas institucionais no país:
“A lei nunca foi usada para nos proteger, sempre para nos punir.”
Marli também falou sobre o uso histórico de termos como “vagabundo” ou “delinquente” para criminalizar a população negra. Palavras que, carregadas de estigma, revelam o quanto o racismo vai além da ofensa direta — ele também está nas narrativas, nas regras, nos olhares e nas ausências.
Participações que somam
A mesa foi composta por nomes que atuam diretamente na promoção dos direitos e da justiça em Alagoas, como o desembargador Tutmés Airan, o juiz Caio Barro, o tenente-coronel Iran Rêgo, o professor da Ufal Emerson Nascimento (coordenador do eixo Democracia Contemporânea) e outras lideranças da área jurídica e acadêmica.
Mais do que um encontro simbólico, o debate reforçou a necessidade de manter esses temas vivos — e em pauta — em todas as esferas da sociedade. O combate ao racismo exige políticas públicas, mas também escuta, coragem e compromisso coletivo.
*Com Assessoria