Relato de Thayanne Magalhães para o Eu, Fêmea
Foi isso o que ele, o mesmo que sonhava ser pai, teve coragem de dizer.
O mesmo que planejou os dois filhos.
O mesmo que prometeu amor, casa e futuro.
Ela, nos seus vinte e poucos anos, era independente, divertida, cercada de amigos e sonhos. Quis ser mãe — mas só depois de se formar, só depois de encontrar alguém que dissesse querer o mesmo.
E encontrou. Ou achou que sim.
Foram anos do que parecia ser, enfim, a família que ela nunca teve na infância. Até que ele foi embora.
Um bebê no colo, outro na barriga.
E um choro tão alto que adoeceu o coração.
Vieram os dias silenciosos.
Ela pediu ajuda — não por amor, mas por parceria na criação.
Recebeu desprezo. Carregou culpas que nunca foram dela.
Cinco anos de luta para conseguir o mínimo: uma pensão que mal cobre o supermercado.
E quase uma década depois, ele joga a frase que corta como lâmina: “Escolhesse melhor o pai.”
Sim, foi o próprio.
O mesmo que escolheu esquecer.
Que vive como se não existissem duas crianças — tão amorosas e saudosas — de um pai que nunca existiu.
E ela segue. Exausta, mas de pé. Dando conta, como sempre.
Porque é o que mães de verdade fazem: seguem.