Foto: Jônatas Medeiros – fotógrafo
Desde o início do segundo semestre deste ano, a ialorixá e escritora Martha Sales tem percorrido diversos eventos literários pelo Brasil para lançar sua nova obra poética, Pé de Tempo. Em Maceió, o lançamento aconteceu na tarde deste domingo (2), durante a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, onde ela promoveu uma conversa sobre orixalidade e literatura de axé, abordando vivências, narrativas e produções de mulheres de terreiro.
Antes de entrar no tema central, Martha celebrou a escolha da Bienal em evidenciar a presença africana na formação do povo brasileiro.
“É uma emoção grande participar desse evento literário grandioso conduzido pelas referências culturais, acadêmicas e artísticas da África”, destacou.
Especialista em Antropologia e pós-graduada em Cinema e Linguagem Visual, a autora também ressaltou a conexão afetiva com o estado. “Sou sergipana, mas meus pais são alagoanos, o que faz deste momento ainda mais especial”.
Literatura Afro-Brasileira e o livro Pé de Tempo
Ao falar sobre a nova obra, Martha explicou que o livro é um recorte específico do que se convencionou chamar de Literatura Afro-Brasileira, mais precisamente de escritos literários sobre os orixás.
“É uma literatura ainda com pouca produção sistemática. A maioria está registrada nas letras de capoeira, sambas, grupos de jongo. Uma literatura que tem força e tradição na oralidade”.
Durante o evento, ela leu a poesia Chão de Terreiro e explicou que o orixá Tempo (Iroko) é o fio condutor de todas as narrativas — a palavra “tempo” está presente em todos os poemas do livro, seu segundo de poesia. O primeiro, Okum D’Orin, lançado em 2024, abordava a sonoridade das águas do mar sagrado. Ambos são considerados experiências estéticas e sensoriais que dialogam com as artes visuais.
Mulheres de Axé na literatura
Para Martha, a relação com o tempo, para mulheres e homens de axé, é ancestral e coletiva. “Quando essa percepção é transformada em literatura, transmitimos um outro modo de viver os diversos aspectos da vida cotidiana”.
Ela destacou ainda o crescimento das narrativas escritas por mulheres negras de terreiro e fez uma crítica ao mercado editorial, que continua sendo um espaço de disputa.
“O mercado editorial precisa ser ocupado também por mulheres negras de axé e suas vivências — não só pelo viés religioso, mas também na música, teatro e audiovisual. Essas mulheres precisam sair da invisibilidade e ocupar seus espaços de fala”.
A autora revelou ainda que está finalizando seu primeiro livro infantil.
*com Ascom BIENAL