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Apenas sete mulheres foram eleitas prefeitas no segundo turno; somente uma comandará capital

Cinthia Ribeiro, que venceu em Palmas (TO) será a única a prefeita de capital. Foto: Reprodução/Facebook

Em todo Brasil apenas sete das 53 mulheres que disputaram o segundo turno das eleições nesse domingo foram eleitas prefeitas. Cinthia Ribeiro (PSDB), que venceu em Palmas (TO), ainda no primeiro turno, será a única prefeita de capital. Macapá ainda fará eleição, por causa da crise energética.

As eleitas no segundo turno são: Suéllen Rosim (Patriotas), em Bauru (SP); Marília (PT), em Contagem (MG); Margarida Salomão (PT), em Juiz de Fora (MG); Professora Elizabeth (PSD), em Ponta Grossa (PR); Raquel Chini (PSDB), em Praia Grande, Elisa Araújo (SD), em Uberaba (MG); e Paula Mascarenhas (PSDB), em Pelotas (RS).

 

Suéllen Rosim (Patriotas), em Bauru (SP)
Paula Mascarenhas (PSDB), em Pelotas (RS)
Margarida Salomão (PT), em Juiz de Fora (MG)
Professora Elizabeth (PSD), em Ponta Grossa (PR)
Marília (PT), em Contagem (MG)
Elisa Araújo (SD), em Uberaba (MG)
Raquel Chini (PSDB), em Praia Grande

Nas maiores cidades onde mulheres disputaram o segundo turno, perderam a eleição. Foi o caso de Porto Alegre, onde Manuela D’Ávila (PCdoB) perdeu para Sebastião Melo (MDB), com uma diferença de 9% do total de votos. Já em Recife, Marília Arraes (PT) perdeu para João Campos (PSB). Ela teve 43% dos votos. Na cidade de Aracaju, a Delegada Danielle (Cidadania) conquistou 42,14% dos votos e foi derrotada nas urnas para Edvaldo Nogueira (PDT). Em Porto Velho, Cristiane Lopes (PP), perdeu para empresário Hildon Chaves (PSDB), que foi reeleito. A candidata teve 45,55% dos votos. 

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de representarem mais de 51,8% da população e mais de 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são minoria na política. 

Foram eleitas, neste ano, 651 prefeitas (12,1%), contra 4.750 prefeitos (87,9%). Ou seja, a cada 100 prefeituras, 12 são comandadas por mulheres. Já para as câmaras municipais, foram 9.196 vereadoras eleitas (16%), contra 48.265 vereadores (84%). 

Segundo ainda o TSE, “proporcionalmente, a capital brasileira que possui mais mulheres eleitas para a câmara municipal é Porto Alegre (RS). Dos 36 eleitos, 11 são mulheres (30,6%) e 25 são homens (69,4%). Já a capital que possui menos vereadoras eleitas, também de forma proporcional, é João Pessoa (PB), com apenas uma mulher (3,70%), contra 26 homens (96,3%)”. 

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Afeto Feito à Mão: amigas se unem e criam papelaria criativa online em Maceió

Três amigas, um só propósito: levar afeto para as pessoas por meio dos próprios produtos. A ideia começou com a união das duas amigas alagoanas Dandara Araújo, 23 anos e Vitória Tenório, 21, que resolveram empreender juntas e criaram uma papelaria criativa. Por enquanto, a Afeto Feito à Mão funciona apenas de maneira online, mas a expectativa – para o futuro – é que ela se torne uma loja física. 

O Eufemea conversou com uma das sócias da Afeto (@afetofeitoamao_) e conta um pouco da história de como a papelaria surgiu.

Segundo Dandara, ela já tinha uma loja virtual onde vendia cadernos artesanais que ela mesmo produzia. “Só que a correria do dia a dia fez com que eu deixasse de lado esse meu negócio”. E foi nesse tempo que a amizade entre Dandara e Vitória cresceu.

“Vitória tinha uma página de textos no Instagram que ela mesmo produzia e fazia as artes, eu tive a ideia de lançar uma coleção de cadernos costurados com frases e artes a partir da criação da Vitória”, contou.

Foi assim que as duas lançaram a primeira coleção de cadernos autorais chamado “Abrace a Vida”, que fez referência ao Setembro Amarelo, em 2019. “Foi aí que a Afeto Feito à Mão nasceu. Porque acreditamos que podemos levar carinho, amor e tudo que é bom para as pessoas a através dos produtos que nós produzimos a mão”, explicou.

Em pouco tempo, a loja cresceu e ganhou mais uma nova integrante: Emília Araújo.

Foto: Cortesia ao Eufemea

Cada uma exerce uma função diferente no negócio. Dandara cuida da parte de produção, dos produtos e gerencia a loja. “Eu fico com a parte mais burocrática”, disse.

Vitória é estudante de relações públicas e é responsável pela parte gráfica da loja. “Tanto para os clientes quanto para as artes que utilizamos como divulgação dos nossos próprios produtos”.

Por sentir a necessidade de expandir o negócio e por causa da alta demanda, as jovens decidiram contar com a ajuda da Emília, estudante de educação física. “Nós pedimos socorro e ela veio nos ajudar”, brincou Dandara.

Agora, Emília auxilia na parte de produção. Apesar de cada uma exercer uma função, as três se ajudam, planejam e vendem.

Preço acessível e produtos de qualidade

E o objetivo delas não poderia ser diferente. Trazer um preço acessível e algo que seja feito com muito amor e afeto, como o próprio nome já diz.

“Nós sempre pensamos em oferecer um produto de ótima qualidade com preço acessível porque nós víamos as pessoas vendendo produtos caros e que não eram bons. Nós queríamos trazer algo diferente, mas também cheio de amor que vai desde a embalagem até a confecção”, explicou Dandara.

Os próximos passos da três, segundo Dandara, é que a loja cresça cada vez mais e que elas coloquem em prática tudo o que não conseguiram por causa da pandemia. 

“Nós queremos estabelecer o nosso nome no mercado para que a gente consiga lançar nossa loja física, mas não é algo que pretendemos para 2020 e sim, quem sabe, para 2021. Tudo no seu tempo”, finalizou.

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Fique Bem: aplicativo é lançado para facilitar denúncias de abusos sexuais; saiba como baixar

Foto: Carla Cleto

A vergonha da sociedade e o medo do agressor estão entre as principais causas para as vítimas não denunciarem os casos de violência sexual. Para ajudar essas vítimas, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) lançou um aplicativo chamado Fique Bem para que as denúncias sejam feitas via online.

A ideia da Sesau é reduzir a subnotificação das denúncias em Alagoas, que corresponde a 30% dos casos, segundo aponta o Ministério da Saúde (MS).

A maior parte das vítimas de violência sexual sofre o abuso no ambiente familiar, o que acaba contribuindo para que percam a coragem de procurar ajuda e revelar o abuso às autoridades de segurança e saúde públicas, seja em razão da pouca idade ou por serem dependentes psicológica e financeiramente do agressor.

Dos 561 casos de abuso sexual denunciados no período de janeiro a outubro deste ano, 421 foram relacionados a adolescentes, o que corresponde a 81% de todas as notificações. 

Além da Área Lilás do Hospital da Mulher, que atendeu 450 das 561 vítimas de violência sexual notificadas este ano, a assistência às vítimas de violência sexual ocorre no Hospital Geral do Estado (HGE). Já no interior, o atendimento é realizado no Hospital Ib Gatto Falcão, em Rio Largo, e no Hospital de Emergência do Agreste (HEA), em Arapiraca. 

O aplicativo é fruto de um projeto de mestrado do Curso de Pesquisa em Saúde do Centro Universitário Cesmac.

Como baixar e acessar – No primeiro momento, o aplicativo Fica Bem está disponível à população para ser baixado em smartphones com a funcionalidade Android, e posteriormente, poderá ser acessado pelo sistema operacional iOS. Assim que for baixado no smartphone, ele pode ser utilizado facilmente, necessitando, apenas, que o usuário realize um cadastro.

Na sequência, irá aparecer um menu com informações sobre como fazer denúncias de violência sexual, possibilitando que o denunciante informe, por meio de um formulário, os dados da vítima e o grau de violência sofrido. Além da denúncia online pelo Fica Bem, a vítima poderá acionar a Secretaria de Estado da Segurança Pública e a Ravvs e se informar sobre as unidades de saúde referência para atendimento e localização dos hospitais.

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Nordeste pede fim da violência contra mulher; em Maceió, manifestantes vão ao Judiciário nesta quarta

O Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado nesta quarta-feira, 25, será marcado em todo o Nordeste por atos e ações que alertarão a sociedade e os governantes que viver uma vida sem violência é um direito humano. Em Maceió, a mobilização está marcada para as 15h, com concentração no antigo Produban, no Centro, em caminhada até o Tribunal de Justiça, na Praça Deodoro. 

“Este ato é o resultado de uma articulação que vem acontecendo desde março quando iniciou a pandemia, entre o UNFPA ONU (Fundo de População das Nações Unidas) e diversas entidades de defesa das mulheres no Nordeste por conta do crescimento da violência durante a pandemia”, informa Paula Lopes, coordenadora da ONG Centro de Defesa dos Direitos da Mulher, uma das organizadoras do movimento. 

Segundo ela, a mobilização propõe chamar a atenção da sociedade e dos gestores a respeito da violência contra a mulher a partir da implementação de políticas públicas para mulheres.

“Estaremos em cortejo do calçadão do comércio até a frente do Tribunal de Justiça, onde ouviremos familiares de vítimas e sobreviventes da violência, assim como mulheres dos movimentos sociais”, diz Paula. 

 Dois documentos foram elaborados e serão encaminhados a autoridades competentes, como destaca a organizadora: a Carta das Mulheres de Maceió, no qual colocamos as principais pautas para proteger e melhorar a vida das mulheres, e outro para o Judiciário de Alagoas”. 

O movimento também irá entregar aos candidatos de 2º turno à Prefeitura de Maceió uma carta compromisso em que pedem apoio para um conjunto de medidas que constituam políticas públicas para as mulheres.
Os números da violência não param de aumentar e de acordo com Paula Lopes são  alarmantes.

“Até agosto tínhamos 18 mulheres fatalmente silenciadas pelo feminicídio em Alagoas, sem contar os casos de estupro e de violência doméstica que não param de crescer, e ainda assim são subnotificados. Não podemos mais aceitar a violência como coisa normal, queremos a garantia de que nossas mães, irmãs, filhas e amigas vão poder contar com uma rede de proteção forte e efetiva se passarem por uma situação de violência”, afirma Paula. 

Paula Lopes, coordenadora da ONG Centro de Defesa dos Direitos da Mulher: “Vítimas em sua maioria são mulheres entre de 15 a 45 anos, negras, pobres e com pelo menos dois filhos”

“Epidemia da violência” 

Ela diz que “as vítimas em sua maioria são mulheres entre de 15 a 45 anos, negras, pobres e com pelo menos dois filhos, mas há violência contra a mulher em todas as classes sociais, e os maiores agressores são os companheiros ou ex-companheiros. As pessoas mais vitimadas com a violência sexual são meninas de 0 a 17 anos, e os maiores agressores são familiares, parentes ou pessoas ligadas à família”. 

“A epidemia da violência sempre existiu, mas ela tem mais visibilidade hoje porque hoje podemos falar sobre isso e denunciar, e há alguns anos a mulher que sofria violência tinha obrigação social de continuar convivendo com seu agressor”. 

Paula Lopes considera que “o maior remédio contra a violência é o investimento em políticas públicas de prevenção e promoção da igualdade e oportunidades,  somadas à proteção das mulheres. Falta aplicação de verbas nessa área”, finaliza. 

O que representa o 25 de novembro

No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal, conhecidas como “Las Mariposas”, foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. Elas lutavam fortemente contra aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Por conta disso, em 1999, a Organização das Nações Unidas instituiu esse dia como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher.

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Do IML à perícia genética, vítimas de estupro enfrentam sofrimento na busca por vestígios do crime

Foto: Marcelo Cabral Júnior/Agência Brasil

É no Instituto Médico Legal (IML) que as vítimas de violência sexual, sejam mulheres ou crianças (meninas ou meninos), são atendidas para exames iniciais. Em Alagoas, são dois: o de Maceió e o de Arapiraca. Diretor-geral do IML da capital, o médico-legista Fernando Marcelo de Paula revela que os casos de estupro envolvem geralmente mulheres em idade infanto-juvenil, que chegam ao Instituto quase sempre acompanhadas de parentes (mãe) ou conselheiro tutelar, fragilizadas e na maioria das vezes relatam “possíveis abusos cometidos por pessoas menos suspeitas e do convívio regular”, como ele informa.  

Casos que chamam atenção e marcam até mesmo a vida de profissionais mais experientes, como confessa o diretor do IML.

“Houve um caso da semana passada, uma jovem franzina de 12 anos, do interior, onde precisou ser submetida a sutura do hímen devido laceração oriunda do ato. Foi atendida no Hospital Santa Mônica”, relata Fernando Marcelo. 

As vítimas, diz o diretor, são em geral “de classe social baixa. Mas tem de tudo”. “É realizado exame de conjunção carnal e o prazo para conclusão é o que preconiza o Código de Processo Penal, 10 dias”. Após o IML, como informa Fernando Marcelo, “o encaminhamento é dado para a rede de proteção às vítimas desse tipo de delito. Seprev [Secretaria Especial de Promoção da Paz ] ou RAVVS [Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual]”. 

Médico-legista Fernando Marcelo, diretor-geral do IML de Maceió conta que os casos envolvem geralmente mulheres em idade infanto-juvenil, que chegam ao Instituto fragilizadas

Lei do Minuto Seguinte 

Chefe do Laboratório de Genética Forense do Estado, a perita criminal Rosana Coutinho informa que para atender “a Lei 12.845/2013, que determina que os hospitais do Sistema Único de Saúde devem oferecer às vítimas de violência sexual atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, de forma a controlar e tratar agravos físicos e psíquicos, incluindo a realização de exames para detectar gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, em Maceió, esse atendimento está sendo realizado no Hospital da Mulher por meio de um acordo de cooperação entre a Perícia Oficial e a Secretaria de Saúde”.  

“Durante o atendimento, é realizado o tratamento profilático com medicamentos que evitam infecções sexualmente transmissíveis e gravidez, além do tratamento de lesões provocadas pela agressão sexual”, ela revela. 

De acordo com a perita, esse atendimento hospitalar foi possibilitado pela Lei 12.845, de 2013, elaborada com base no protocolo do Ministério da Saúde, e denomina-se Lei do Minuto Seguinte. 

Corpo de delito 

No atendimento, informa Rosana Coutinho, “também são coletados, por peritos médico-legistas, vestígios do crime, como secreções vaginais e anais em que pode haver sêmen do agressor e sangue da vítima, bem como, outras secreções em outras partes do corpo, pois, tão importante quanto o atendimento médico, é a realização de um boletim de ocorrência e a coleta de material biológico para exame de confronto genético, visando identificar o agressor”.  

“No Brasil, a legislação processual penal determina que, nos crimes que deixam vestígios, é indispensável a realização do exame de corpo de delito, que é realizado por meio de análise e coleta de vestígios diversos deixados nas cenas de crime ou nos corpos das vítimas, sendo um desses vestígios, os materiais biológicos, que contêm DNA, e são encontrados nas mais variadas formas, como manchas, de sêmen, sangue, saliva, dentre outros objetos, além de fragmentos de tecidos humanos em suportes diversos”, explica Rosana Coutinho. 

Segundo ela, “essas amostras contêm DNA e, se coletadas adequadamente, podem ser utilizadas na identificação de autores de crimes, uma vez que o exame de DNA é espécie do gênero prova pericial e ocupa lugar entre os meios legais de prova, que, ao lado dos demais, contribuirão para elucidar o fato e auxiliarão o juiz a formar o seu convencimento quando do julgamento da lide”. 

Perita criminal Rosana Coutinho: “Material coletado nas vítimas, juntamente com o material do suspeito, quando houver, será encaminhado para o Laboratório de Genética Forense”

Perícia genética 

O material coletado nas vítimas, como conta a perita criminal, juntamente com o material do suspeito, quando houver, “será encaminhado para o Laboratório de Genética Forense para serem traçados os perfis genéticos e comparados, visando identificar se o material genético masculino encontrado na vítima é daquele suspeito”.  

 “Até bem pouco tempo só analisávamos o que chamamos de “casos fechados”, que é quando há material biológico coletado da vítima e o material referência de um ou mais suspeitos. A partir da entrada do Laboratório de Genética Forense no Banco Nacional de Perfis Genético, que é coordenado por peritos da Polícia Federal, onde os perfis genéticos das amostras são checados com os bancos de todos os estados do país, passamos a traçar e inserir nesse banco, os perfis genéticos masculinos identificados em “casos abertos”, em que só existe o material coletado da vítima”, revela a especialista. 

Esse perfil, ela diz, “é confrontado com os perfis de referência existentes no Banco de Alagoas e com os perfis de outros estados do país”. 

“Ainda não são muitos os casos que chegam porque aqui se tem a cultura de só realizar o exame de DNA se houver um suspeito do crime e ele concordar em doar material biológico para confronto, porque ele pode se negar. A lei permite que ele não é obrigado a gerar provas contra si mesmo, mas ele pode querer doar. Assina um termo de consentimento ou então o juiz determina que ele doe. Aí não tem escolha”. 

Rosana Coutinho lembra ainda a importância da perícia e do banco genético na identificação dos verdadeiros culpados. Ela cita duas situações. 

“Caso de um militar que estuprou e matou uma jovem no Trapiche. Sequestrou o casal, matou a moça e pensou que tinha matado o namorado, que se fingiu de morto e depois reconheceu ele, Josevildo Valentim. As delegacias mandaram amostras de outras vítimas, que poderia ser ele o estuprador. Só que deu negativo para ele. Não foi identificado como autor desses crimes. Deu um estuprador em série. Um perfil genético masculino nas seis vítimas que é idêntico ao de um mesmo homem, que a gente não sabe ainda quem é, mas que vai ser inserido no bando e checado, que a gente pode identificar quem é o autor desses estupros. O banco genético é um instrumento muito eficaz e importante”. 

“Teve também um caso que o acusado foi inocentado. Ele era acusado por cinco vítimas, que quando olhavam ele choravam, se desesperavam, e quando a gente foi ao presídio, por determinação judicial, coletar material, ele disse: ‘Graças a Deus que vocês vieram!’. Ele ficou preso um ano e meio e quando a gente fez o exame de DNA não deu o perfil dele. Ele era inocente. Elas falavam que o estuprador era um trabalhador de usina, que elas lembravam da farda da usina, da bota. Eles estupravam as mulheres logo cedo, quando elas iam saindo para trabalhar e esse rapaz não tinha nada a ver com usina. Tinha uma lojinha de coisas para celular e ele foi libertado. Então o DNA tem essas duas vertentes, tanto de dar a autoria do crime como de inocentar pessoas que não cometeram o crime, porque a vítima está muito confusa, então ela tem uma tendência. O reconhecimento é muito perigoso. A pessoa no calor da emoção dizer: foi esse. O DNA tem esse caráter.” 

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Empreendedoras vivem entre a destruição de imóveis e a perda do investimento na região atingida por mineradora

Eliane Cavalcanti. Foto: Jean Charles Watelet

Quem passa pelas ruas do bairro Pinheiro, em Maceió, tem a impressão de estar diante de um campo de guerra. Casas e ruas inteiras destruídas formam o cenário aterrorizante que se tornou a região. O Pinheiro é um dos quatro bairros da capital alagoana afetados pelas minas de exploração de sal-gema da petroquímica Braskem e que podem desaparecer. Além dele, a destruição atinge Bebedouro, Mutange e Bom Parto, expulsando famílias de suas moradias e comerciantes dos locais de onde até aqui tiravam seu sustento, geravam emprego e renda, como é o caso de empreendedoras que viram seu sonho literalmente desmoronar. 

O Eufemea ouviu empreendedoras do Pinheiro e traz o relato da situação que elas enfrentam. 

Eliana Cavalcanti é dona do ballet de mesmo nome, tradicional na cidade, fundado em 1973, portanto, há 47 anos. Sua primeira sede ficava localizada à Rua Senador Mendonça, no Centro de Maceió. Por necessidade de um espaço maior, pois o número de alunos crescia, ela se mudou para um casarão (segunda sede) da Rua Barão de Alagoas, onde hoje funciona um complexo do Sesc. 

Ela conta que em 1979, comprou um terreno no Loteamento da Leão Empreendimentos, localizado no Farol, que passou tempo depois a se chamar Pinheiro. A construção da sede definitiva do Ballet Eliana Cavalcanti, como imaginava, iniciava ali, em 1981. 

Prédio onde funcionava o Ballet Eliana Cavalcanti, no Pinheiro: pedido de empréstimo, venda de carro e casa para realizar um sonho. Foto: Jangada Filmes

“Pedimos um empréstimo para pagar em 10 anos à Apeal Caderneta de Poupança. Como o dinheiro não foi suficiente, vendemos um terreno na Barra de São Miguel, nossa casa própria, situada na Rua Elaine Lima, número 50, na Gruta de Lourdes, e, por fim, vendi o meu carro. Portanto, um investimento altíssimo”, relata Eliana. 

Eliana Cavalcanti, dona do ballet de mesmo nome

De um casarão, a apenas duas salas 

Mesmo com o tremor de terra de 2018, ela diz que não se preocupou porque achava que havia sido uma acomodação do solo. “Aos poucos, fomos ficando cientes das fissuras e rachaduras dos imóveis do Pinheiro, bem como dos afundamentos no solo. No início de 2019, fizemos uma reunião com os alunos e pais dos nossos alunos, menores de idade. Por quase unanimidade, eles falavam que no Pinheiro não voltariam a estudar. Passamos um mês inteiro procurando onde abrigar a nossa escola. Depois de muita pesquisa, alugamos duas salas no Colégio Monteiro Lobato. Era uma situação emergencial”, lembra Eliana. 

Uma das salas do prédio que foi totalmente adaptado para virar um espaço de ballet. Foto: Jangada Filmes

Com isso, segundo conta, acabou perdendo alunos. “Muitos dos que moravam no Pinheiro foram morar em bairros distantes, e ainda amargamos o fato de termos de pagar aluguel. De uma escola com recepção, secretaria, cantina, apartamento para professores, sala de espera, duas salas de aula com 100 metros quadrados cada, garagem para dois carros e área de lazer, além de um apartamento completo onde moramos por muitos e muitos anos e, ultimamente, morava a minha filha com sua família, tivemos de nos contentar com duas salas pequenas”, conta a bailarina empreendedora. 

“Só de banheiros eram sete (três no piso inferior e quatro no piso superior), sem contar que o prédio foi projetado especialmente para dança. Depois de dez meses no Monteiro Lobato, achamos uma casa que estava fechada há onze anos, e poderia chegar mais perto das necessidades de uma escola de ballet como a nossa. Para essa nova sede foram gastos cerca de sessenta mil reais (vendemos nosso carro e levantamos um empréstimo junto ao Banco do Nordeste)”. 

Futuro incerto, espera angustiante

A nova sede foi aberta em fevereiro e fechada em março por conta da pandemia. Em agosto, as atividades foram retomadas. O número de alunos tem aumentado, mas a empresária diz que ainda é insuficiente para pagar o aluguel do espaço, que é muito alto. 

“Com relação à Braskem, estamos na angustiante expectativa de uma espera que se arrasta. Nosso prédio está fechado com tijolos. Não é mais nosso, pois tivemos de assinar um Termo de Posse para a Braskem, mas não sabemos quando nem quanto receberemos de indenização, pois assim foi acordado entre o Ministério Público e a empresa responsável por essa destruição de quatro bairros e destruição da saúde de milhares de moradores e empreendedores”, revela Eliana. 

“Como já entregamos toda a nossa papelada ao nosso escritório advocatício, e este, por sua vez, já encaminhou ao jurídico da Braskem, estamos aguardando a fim de ouvirmos a proposta da empresa quanto ao valor da nossa  indenização. É surreal!”. 

Quanto ao futuro do Ballet Eliana Cavalcanti, ela não sabe ainda qual será. “Fica difícil decidir alguma coisa sem saber nada sobre a nossa indenização. A escola é a minha única fonte de renda, e eu tinha certeza que quando resolvesse parar teria um prédio que valeria um aluguel que me daria uma boa aposentadoria”, lamenta Eliana. 

Investimento alto, prejuízo grande 

Há quatro anos Andréa Costa de Carvalho é proprietária da Sonograph, clínica de diagnóstico por imagem no Pinheiro.

“Compramos de alguém que já tinha a clínica aqui, em torno de 22 anos. A gente fez realmente um investimento alto, porque as máquinas usadas são muito caras. Fiz também a metade da reforma, que foi um investimento alto. Depois parei, por orientação do pessoal da associação (de moradores). Tive que fechar por dois meses na pandemia”, relata Andréa. 

Andréa Costa de Carvalho, proprietária da Sonograph
Andréa Costa, dona da Sonograph, no Pinheiro: “Como a maioria dos que estão aqui, sobrevivo desse negócio”

Hoje, com as rachaduras nos imóveis, o prejuízo é grande. “A clínica está aberta, mas assim, recebo muitas situações, principalmente de particulares e de convênio, que ligam para marcar e aí quando sabem que é no Pinheiro, desistem. Como se as pessoas tivessem receio de estarem aqui e afundar o prédio. Muito desconhecimento em relação a isso, mas eu não julgo, porque é uma situação complicada de quem está vivendo aqui”. 

Em relação à Braskem, ela diz que o advogado está entrando em contato para ver no que eles podem ajudar. “Nós temos que sair daqui. Tive que pagar os aluguéis da casa que iria reformar no Farol, para sair daqui do Pinheiro, mesmo desistindo de mudar pra lá, pois a reforma ia ficar em torno de R$ 400 mil. Agora estou para alugar um outro espaço, que eu vou gastar menos em reforma. E assim a gente vai administrando até conseguir sair daqui e ir para um lugar tranquilo nesse sentido”. 

Indagada como se sente, Andréa responde: “De pé, mão, tudo atado, porque gostaria muito de reformar esse prédio, gosto demais dele. Nos atende perfeitamente. A minha ideia era reformar. Ano passado busquei fazer essa reforma, mas aí preferi aguardar para ver como iria funcionar essa questão do Pinheiro. Esse ano iniciei também a reforma. Então paguei arquiteto duas vezes, mas aí o pessoal da associação me aconselhou a não dar continuidade, a sair daqui”. 

“Me sinto totalmente prejudicada, porque estou saindo de um lugar pronto, para lugares que estou tendo que ter um gasto que não era previsto. Isso gera uma expectativa, uma ansiedade, angústia muito grande porque estou tendo que me adaptar a essa nova realidade”, conta Andréa. 

Ela relata a dificuldade para chegar até o local onde está hoje e de onde terá que sair.  

“Foi muito complicado conseguir um espaço que nos coubesse, inclusive no sentido da gente gastar menos. A gente teve que fazer uma série de adaptações. Tenho que atender as exigências de todos os órgãos que nos fiscalizam. O arquiteto também tem que ser alguém com conhecimento de todas as legislações que permeiam a construção de uma clínica. Não é algo fácil de se fazer. Não só como a maioria dos que estão aqui, sobrevivo desse negócio. Difícil, muito difícil toda essa situação. Muito complicada, mas sigamos”. 

De shoppings a supermercados: falência e pobreza 

Presidente da Associação dos Empreendedores do bairro do Pinheiro, Alexandre Sampaio informa que há em torno de 3.600 CNPJ ativos nos quatro bairros atingidos e 800 empreendedores informais e profissionais liberais.  

Segundo ele, não há como saber que tipo de empreendimento predomina na região, mas afirma que “os quatro bairros ofereciam todos os tipos de comércio e serviço para a população. De shoppings a supermercados, de hospitais a escolas, de clínicas, prédios empresariais, galerias, restaurantes, boutiques, salões…”.  

“95% dos empreendedores e seus familiares dependem exclusivamente dos seus negócios. O esvaziamento dos bairros está levando à falência e à pobreza, sem falar no desemprego”, relata Alexandre. 

Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores do bairro do Pinheiro

Há muitos casos em que no mesmo prédio onde o investidor mora funciona o empreendimento, ou seja, uma dupla perda. “Não só de morar e empreender no mesmo Imóvel, mas também de investir em imóveis no bairro. Em todos os casos a perda é duplicada”, diz Alexandre ao informar que “cada um vai pra onde quiser ou puder. Na prática, a quebradeira é grande, pois é impossível mudar sem dinheiro”. 

De acordo com o presidente da associação, as negociações se iniciaram, mas 99% das empresas ainda não receberam as indenizações. “Primeiro assina um termo pra desocupar o imóvel, recebendo míseros R$ 10 mil de adiantamento da indenização. Depois apresenta as provas dos danos material, moral e lucros cessantes. Mas a Braskem não fez nenhuma proposta até hoje de indenização”, relata Alexandre.  

Já a entidade representativa vem prestando todo apoio aos empreendedores.

“A Associação atua em cinco frentes: jurídica, oferecendo apoio em todas as esferas da empresa, além da negociação com a Braskem; troca de informações, tirando dúvidas e ajudando a calcular os prejuízos; negociações de reduções tributárias, a exemplo da lei municipal 6.900 aprovada em maio do ano passado, da negociação em curso com o governo estadual de isenção de ICMS; negociação de crédito subsidiado: construímos junto com o Sebrae e Desenvolve uma proposta de crédito, mas o governador não teve interesse até agora de ajudar em nada e representação junto à imprensa, redes sociais e órgãos públicos, fazendo denúncias, negociações, vídeos, palestras, entrevistas, etc”.

O início de tudo: tremor  e rachaduras de casas 

Era fevereiro de 2018  quando, após um período de fortes chuvas, ocorreu um tremor que foi sentido em Maceió. Logo após, casas, prédios e ruas do bairro do Pinheiro sofreram rachaduras. Tratado a princípio como fato isolado, o fenômeno se repetiu em março do esmo ano, quando foi registrado um novo abalo, de 2,5 na escala Richter, provocando o aumento das fissuras e assustando a população de Maceió. 

Casas foram destruídas e os moradores tiveram que deixar imóveis nos quatro bairros atingidos
Prédios de apartamentos também foram destruídos; muitos moradores ainda aguardam indenização. Foto: Reprodução TV Gazeta

Com o  novo abalo, em junho de 2018, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) deu início aos estudos de solo. E um ano depois, em maio de 2019, quando as rachaduras e os buracos no asfalto já haviam atingido os bairros de Mutange, Bom Parto e Bebedouro, o órgão concluiu que a atividade da mineradora Braskem na região, para extração de sal-gema, utilizada para a fabricação de soda cáustica e PVC, era a responsável pelas fissuras no município. 

Nos quatro bairros, 4,5 mil imóveis foram afetados. Braskem pagará R$ 1,7 bilhão para realocar 17 mil pessoas.

Empresa diz que 90% dos empreendedores foram realocados 

O Eufemea ouviu também o comando da Braskem sobre a situação dos empreendedores da região. A empresa encaminhou as seguintes informações:  

o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) deu início aos estudos de solo em 2018 e um ano depois concluiu que atividade da mineradora Braskem era a responsável. Foto: Brasil de Fato

Na área de desocupação do mapa de setorização da Defesa Civil existem cerca de 1000 comércios menores/imóveis mistos que estão sendo atendidos no PCF. Deste total, a maior parte já foi realocada – mais de 90% – com todo apoio dos serviços disponíveis.  

Um grupo especial, de técnicos sociais, está buscando ativamente os empreendedores, inclusive por meio dos seus advogados, para entender as necessidades específicas deste grupo e assim garantir a sua realocação.  

O programa oferece apoio à realocação e, dentre outras ações, faz a mudança dos equipamentos das empresas. Além disso, no processo de compensação, estão previstos o pagamento dos lucros cessantes do empreendimento e do valor do imóvel para o proprietário, e também a compensação das despesas, como, por exemplo, verbas rescisórias de demissão de empregados ou outros gastos que o comerciante tenha tido para poder preparar um novo imóvel. 

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Empreendedoras se unem e criam evento para incentivar o empreendedorismo feminino em Alagoas

Um estudo sobre empreendedorismo feminino mostra que 86% dos negócios liderados por mulheres fecharam ou funcionam apenas em parte durante isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. Para tentar reverter o cenário e ajudar essas mulheres em Alagoas, quatro empreendedoras se uniram para realizar um evento de empreendedorismo feminino em Maceió.

O mês de novembro é especial por celebrar o dia do empreendedorismo feminino. Por causa disso, o Portal Eufemea e a Agência Arca resolveram criar um momento especial para as mulheres que pensam em empreender ou que já tem algum negócio.

O evento está marcado para acontecer na quinta-feira (26), às 18h00, no Petit Sucré, situado no bairro da Jatiúca, parte baixa da capital.

Segundo as fundadoras do Portal Eufemea, as jornalistas Niviane Rodrigues e Raíssa França, a oportunidade é de promover networking e incentivar o empreendedorismo local. “Nós somos a prova disso. Empreendemos em plena pandemia e fundamos o primeiro site de conteúdo feminino do Nordeste. Foi preciso muita luta, persistência, garra e planejamento. Queremos contar também nossa história e incentivar mais mulheres porque acreditamos na força delas”, afirmaram.

Já as especialistas em marketing digital da Arca, Laís Casado e Meline Lopes reforçaram que o evento – que será feito para apenas 30 pessoas -, é fundamental para quem passou ou ainda passa pela crise provocada pela pandemia.

“Muitos setores foram abalados e os estudos apontam isso. As mulheres foram prejudicadas e nós entendemos isso abalou as empreendedoras do nosso Estado. Quem também pensava em empreender ficou com medo. Nós queremos mudar esse cenário e plantar uma semente de esperança no coração delas”, afirmaram as especialistas.

O evento contará com uma programação incrível que envolve talk show com grandes nomes do empreendedorismo feminino de Alagoas, sorteios, games, entre outros.

SERVIÇO:

Local: Café da Vila, no bairro da Ponta Verde
Horário: 18h00
Data: 26/11
Link para inscrição: https://www.sympla.com.br/meeting—mes-do-empreendedorismo-feminino__1041446

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Qualquer ato depois do “não” é estupro, diz especialista: “Uma brutal violação do corpo”

Casos de violência sexual contra a mulher, principalmente o estupro, são a todo momento tratados como uma relação sexual, e daí relativizados.  Mas distante do ato consentido, o estupro é crime. “Uma brutal violação do corpo e um exercício de poder sobre o outro”, como atesta a professora Livya Sales, especialista em Direito e Processo Penal.  

A especialista é categórica ao afirmar que a linha que divide é a do consentimento (válido – que a vítima possa garantir que quer). “Qualquer coisa depois do não, é estupro e ponto. Sem essa ideia odiosa de ‘faz parte do jogo do amor’. Jogo tem que ser junto, todo mundo querendo e podendo jogar! Infelizmente ainda há essa fantasia absurda de que estupro é uma oportunidade de sexo… isso é lamentável”. 

Livya Sales, que possui um vasto currículo, e atua em pesquisas sobre condição de gênero, chama atenção ainda para a relativização de situações que violam a dignidade da mulher.   

“Estamos em tempos em que alguém dizer abertamente que se uma pessoa feia for estuprada o estuprador merece um abraço é no mínimo criminoso. Não acho isso engraçado, porque antes de tudo isso é um drama, uma violação imensa que devasta a vida de uma pessoa. É muito triste quando a gente vê retrocessos como o caso de Mariana Ferrer no processo de revitimização da vítima. Ainda bem que é estamos atentos e fortes, como diz a canção…se lá nos anos 80 que as limitações de organização eram grandes, conseguimos derrubar a tese da legítima defesa da honra. Não é agora que a gente vai deixar isso voltar impunemente…”, ela pondera. 

Um estupro a cada 11 minutos 

Autora da tese de mestrado “Não tem coisa melhor do que você distribuir justiça” – Poder e dominação masculina nas razões de decidir dos magistrados alagoanos nos crimes de estupro contra mulheres”, Livya lembra que  “a cada 11 minutos uma pessoa é estuprada no Brasil. 81,8% das vítimas são mulheres. A maioria das vítimas (53,8%) foram meninas de até 13 anos – 4 a cada hora. Foram 66 mil vítimas de estupro no Brasil em 2018, maior índice desde que o estudo começou a ser feito em 2007, isso sem contar que o crime de estupro é uma dos mais subnotificados”. 

Livya Sales, especialista em Direito e Processo Penal: “Sem essa ideia odiosa de ‘faz parte do jogo do amor”

Segundo ela, “estima-se que esse número pode chegar ao triplo, sobretudo em uma conjuntura de pandemia em que as relações domésticas vêm sendo marcadas por violência de todos os tipos e dificuldades de denúncia. Esse crime é um crime de gênero, isso pra mim é claro”. 

Em relação a Alagoas, Livya diz que o Estado historicamente é muito violenta com as mulheres. “De acordo com o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Alagoas registrou um aumento de 38,7% no número de estupro/estupro de vulnerável e tentativa de estupro/estupro de vulnerável. Os dados são equivalentes aos números de 2019, em contrapartida aos de 2018”, ela lembra. 

“Indo de encontro à taxa nacional, que apresentou uma queda de 1,9% nos casos registrados, o estado teve 634 registros de estupro/estupro de vulnerável e tentativa de estupro/estupro de vulnerável em 2019. No ano de 2018, foram denunciados 455 casos”, ressalta. 

O estado de Alagoas, de acordo com a especialista, “é o terceiro do país em números de estupro e estupro de vulnerável, ficando atrás apenas do Amapá (72,4%) e do Rio Grande do Norte (58,7%)”.  

Situação que se agrava porque, como ela informa, “Alagoas não forneceu ao FBSP os dados que especificam as vítimas mulheres de estupro e o número das tentativas de estupro, nem de assédio ou importunação sexual. (https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-final.pdf) Outro dado alarmante é a crueldade dos crimes e com vítimas menores, inclusive com justiçamento envolvido”. 

Negras com até 13 anos 

Quem são as potenciais vítimas? E os potenciais agressores? Livya Sales informa que o crime de estupro é bastante heterogêneo a não ser pela vítima que em regra é mulher (81,8%). “Mas os dados revelam que 50,9% são negras e 48,5% são brancas e 53% tem até 13 anos. Não existe a figura de um criminoso “em potencial” que reúne características que certifiquem que essa pessoa tem perfil de estuprador. O estuprador pode ser qualquer pessoa, até porque esse crime não acontece por um distúrbio, a raiz é outra”, ela afirma.  

Segundo ainda a especialista, “o número de pessoas com doenças mentais é baixíssimo e geralmente o agressor é conhecido da vítima, o que tira a ideia do clássico mito de que o estuprador está na rua escura esperando uma mulher desavisada com roupas provocantes. Para a ONU, inclusive, o lugar mais inseguro para as mulheres é a casa, e isso inclui a violência sexual”. 

Isso porque, como explica Livya, “grande parte dos estupradores preenche o estereótipo acima de qualquer suspeita. Em relação à vítima, isso ainda é mais brutal: são violentadas de mulheres idosas a crianças e isso também desconstrói a imagem da vítima provocadora que “praticamente” convidou o agressor a estuprá-la, estimulando-o. Essa tese foi muito usada nos anos 90 e tem voltado com força. Na verdade, ela nunca saiu da cultura jurídica. Num passeio pelos manuais, jurisprudências, sentenças, argumentos de advogados, é fácil encontrar isso”. 

Violação do corpo 

No seu estudo, que resultou na sua dissertação de mestrado, apresentada no departamento de Sociologia pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas), a pesquisadora mostra também o comportamento quando se trata de jovens. 

“Tem uma capítulo lá na minha dissertação que eu intitulei com uma música que eu adoro do Cazuza: “…eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades…” Temos avançado, mas há um retrocesso abissal… Espero que nos recuperemos de tanta violência…”, ela diz, ao chamar atenção para os números. 

“Os números são bem brutais. Casos como o da jovem que foi violentava enquanto estava desacordada por múltiplos agressores, que filmaram e compartilharam o estupro, me deixam desolada… Não havia como negar, a prova era irrefutável! Existiu um movimento de descredibilização tão grande da vítima, a vida dela foi virada ao avesso, histórico de vida, fotos, tudo… a família foi devastada e a vítima ficou trancafiada. Essa é uma realidade perversa do machismo de todas as idades”. 

Livya lembra ainda que temos um movimento forte de luta e não aceitação. Porém, ela diz que “em contrapartida há uma realidade extremamente inóspita para quem resolve denunciar…a justiça não é acolhedora e causa dor, sofrimento e descrédito em quem foi em busca de amparo”. 

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Inspiradoras Interna Notícias

De 102 municípios alagoanos, 21 elegeram ou reelegeram mulheres; confira lista

Na foto: Ceci Rocha e Camyla Brasil/Internet

Dos 102 municípios alagoanos, 21 deles elegeram ou reelegeram mulheres para o cargo de prefeita. O Eufemea trouxe a lista que você confere abaixo:

Um dos destaques da eleição foi a chapa 100% feminina formada pela candidata à Prefeitura de Atalaia, Ceci Rocha (PSC) e a vice, Camyla Brasil. Elas foram eleitas com 62,6% dos votos válidos. Foram 14.057 no total. Com a vitória, Ceci é a primeira mulher a governar Atalaia. 

Também foram eleitas: Lucila Toledo (Podemos), em Cajueiro, Alagoas; Leopoldina Amorim, do PSD, em Maribondo; Silvana, do PP, foi eleita prefeita de Flexeiras; Lívia Carla, do PTB, na Barra de Santo Antônio; Eronita, do PSD, foi eleita prefeita de Porto Calvo; Marcela Gomes, do PL, foi eleita prefeita de Novo Lino;Dona Vera Dantas, do MDB, foi eleita prefeita de Igreja Nova; Suzy Higino, do PP, foi eleita prefeita de Olho D’Água Grande; Denyse da Dona Telma, do PSB, foi eleita prefeita de Ouro Branco; Ziane Costa, do MDB, foi eleita prefeita de Delmiro Gouveia.

Outro destaque foi Ângela Vanessa, do PP, em São José da Laje. Ângela Vanessa é a primeira mulher do Município a ser eleita.

Já com relação às candidatas que foram reeleitas estão: Conceição Albuquerque, do PTB, prefeita de Maravilha; Fernanda Cavalcanti, do MDB, prefeita de São Luiz do Quitunde; Christiane Bulhões, do MDB, prefeita de Santana do Ipanema; Paula Santa Rosa, do MDB, foi reeleita prefeita de Belém; Rosiana Beltrão, do PP, foi reeleita prefeita de Feliz Deserto; Jeane Moura, do MDB, foi reeleita prefeita de Senador Rui Palmeira; Decele Dâmaso, do MDB, foi reeleita prefeita de Coqueiro Seco; Tainá Veiga, do PP, foi reeleita prefeita de Lagoa da Canoa e Marina Dantas, do MDB, em Batalha.

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De religião de matriz africana, candidata quer dar voz às mulheres no Sertão de Alagoas

Atenção básica à saúde, principalmente para os idosos, e amplo funcionamento da Secretaria de Cultura estão entre as prioridades de Dayane Cristina Almeida, 29 anos, que pela primeira vez disputa uma vaga na Câmara Municipal, no município de Carneiros, no Sertão de Alagoas, pelo Partido Progressista (PP). Agricultora, Dayane é de religião de matriz africana e mais uma na série de reportagens do Eufemea com as mulheres das minorias sociais que disputam o pleito no próximo domingo. Para as mulheres, ela diz que com maior representatividade terão voz no Legislativo. 

“Eu sou uma mulher batalhadora corro atrás dos meus objetivos sou perseverante naquilo que almejo sou de família humilde, mas minha mãe soube me criar mostrando os valores da vida e que é certo e o que é errado”. 

Atualmente ela conta estuda e procuro um emprego e assegura que se eu for eleita suas prioridades serão atenção básica à saúde, sobretudo para os idosos diabéticos. “Quero também fazer com que a Secretaria de Cultura funcione para atender todas as pessoas que precisarem”, afirma. 

“Sou do Candomblé. O ilê que eu frequento é de São José da Tapera (também no Sertão alagoano) e o que me levou a disputar um cargo político foi o cansaço de tanto descaso com a população, tanta humilhação com o povo. Então estou concorrendo para que se eu chegar lá possa mostrar à população que o povo merece ter alguém que os veja, os ajude e não os humilhe”, ela diz. 

E para as mulheres, Dayane destaca que os projetos a serem apresentados por ela no Legislativo terão como foco a ampliação do conhecimento, “para que elas vejam que nós mulheres somos capazes e também termos voz, tendo mais mulheres na Câmara, oportunidades de mais assistência, mais valor à mulher carneirense vai ter”. 

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Em Pernambuco, quilombola defende protagonismo político e social da mulher

A necessidade de participação política e representatividade do povo do campo impulsionaram a professora Espedita Maria dos Santos a concorrer a uma vaga na Câmara de Vereadores de Betânia, em Pernambuco, como afirma. A quilombola, de 48 anos, disputa o segundo mandato, defende o protagonismo feminino, e é mais uma entrevistada na série do Eufemea com as candidatas da chamada minoria social.  

“Me defino como uma mulher forte, que busca viver e conviver com todos, com respeito, humildade e dignidade, enfrentando os obstáculos com determinação para o bem comum, seja na vida pessoal, profissional ou pública”, ela diz. 

Espedita destaca que em segundo mandato, se eleita for, manterá como foco a luta pela efetivação “de direito de todos os que necessitam de apoio e desenvolvimento de políticas públicas em suas localidades”.  

E para as mulheres, ela assegura que irá acompanhar as organizações de mulheres do campo e da cidade.

“Buscar junto aos governos estadual e municipal ações de fortalecimento para grupos de mulheres, incentivar o protagonismo de mulheres no meio político e social  e indicar projetos  de incentivo às mulheres na produção e escoamento das ações desenvolvidas, além de apoio à qualificação profissional, emprego e renda”, pontua a quilombola.