O que você faria se fosse negada pela empresária de uma loja por ser magra demais e ouvisse que você não se encaixa no padrão de beleza? Foi isso que ouviu a alagoana Laura Martins, de 20 anos, após ela ter mandado uma proposta de parceria para uma loja em Maceió. A sensação, de acordo com ela, foi de tristeza. Ela resolveu compartilhar o print da conversa com o estabelecimento comercial nas redes sociais, mas não citou o nome dele.
Laura contou ao Eufemea que sempre teve interesse em trabalhar como modelo, mas que as agências cobravam muito caro, e a família não teve condições de arcar. “Depois que engravidei, vi meus sonhos um pouco mais distantes do momento atual. Perdi muito peso após a gestação, ao todo foram 20 quilos”, disse.
A alagoana contou que depois de dezembro, ela voltou a pensar em ser modelo de novo, já que tinha feito um trabalho como modelo de cabelo em um salão de beleza. “Isso abriu algumas portas pra mim. Comecei a trabalhar como modelo de maquiagem e de penteados, e fui em busca de mais”.
Ela chegou a falar com algumas lojas oferecendo proposta de parceria, mas disse que a maioria nem a respondia. “Ou falavam que não estavam fechando parceria no momento e essa quarentena não facilitou nada já que meus trabalhos de modelo foram suspensos”.
Foi aí que ela pensou em enviar mensagens novamente para algumas lojas que já tinha abordado. “E aí eu tive aquela infeliz mensagem como resposta”, comentou.
Veja abaixo a resposta da loja
Laura disse que sabe que está magra e que “não precisa de ninguém jogando isso na cara dela de forma dura”. Quem viu a mensagem que a loja enviou para Laura foi a irmã dela. “Ela veio me mostrar, aí tirei o print e mandei pra uma amiga minha que me incentivou a postar, me disse que ninguém jamais deveria passar por algo desse tipo”.
Segundo a alagoana, escutar isso de uma loja foi cruel e desumano. “ Me senti muito mal e passei o dia inteiro deitada. Não quis conversar com mais ninguém. Me sentia triste. Não era raiva, era tristeza de ser menosprezada”.
Entretanto, ela decidiu que iria publicar o print com o comentário para que as pessoas vissem que existem mais pessoas querendo atrapalhar do que ajudar. “Pessoas que vão fazer você desacreditar de si e que vão dizer que você não tem valor. E que a gente tem que passar por cima, chorar o que tiver e depois seguir”.
O que aconteceu fez com que ela observasse também que existem pessoas que querem ajudar, mas que nenhum comentário apaga o negativo que ela ouviu. “Tenho recebido muito apoio nas redes sociais, mas nem mil comentários apagarão aquele ruim”.
Porém, mesmo abalada, ela disse que não vai desistir dos sonhos dela e que vai lutar para alcançar os objetivos. “O mal por si se destrói. Ninguém jamais sai impune de qualquer situação. Todos colhem o que plantam”, finalizou.
A pandemia do novo coronavírus trouxe para algumas pessoas a oportunidade de criar algo novo e de aprender. A brasileira Camilla Araújo que mora em Valência, na Espanha, decidiu investir em algo que ela ama fazer: ensinar inglês e espanhol. As aulas acontecem de forma online, com preço acessível e oferece oportunidade para quem quer aprender um segundo idioma.
Ao Eufemea, Camilla disse que sempre teve vontade de ensinar, mas que só tomou coragem após a chegada da pandemia. “Era algo que eu deveria ter feito antes da pandemia. Eu já ajudava meus colegas de curso como tutora”.
E com a pandemia, segundo ela, as pessoas começaram a aceitar mais o destino à distância. “Muitas pessoas no Brasil tinham ainda um certo receio de fazer algo online e agora isso mudou”.
A brasileira explicou que oferece dois tipos de aula: para os brasileiros com inglês e espanhol, e português para estrangeiros. “Tudo de maneira online pelas principais plataformas”.
O diferencial de Camilla é que ela oferece a primeira aula grátis e escutar o que o aluno sempre busca. “Algumas pessoas querem aprender inglês ou espanhol para viajar, ou para o trabalho. Eu preparo as aulas para o que o aluno precisa”, explicou.
De acordo com Camilla existem três vantagens de ter uma professora particular: fazer aula voltada para o que o aluno precisa, ter mais tempo só para si para tirar as dúvidas e aprender, e flexibilidade de horários.
Caso alguém tenha interesse em começar a aprender um dos dois idiomas, entra em contato pelo Instagram: @araujocamilla, pelo e-mail cmillaaraujo@gmail.com ou pelo whatsapp.
Fernanda Tanajura tem 24 anos e nutre sonhos e planos como toda jovem de sua idade. Ama moda e beleza e quer trabalhar na produção de conteúdo. No Instagram, ela vem se destacando pelas fotos que realçam sua graciosidade, o modo extrovertido como se comunica com seus seguidores, mas acima de tudo pela capacidade de se enxergar de maneira igual às outras pessoas.
Desde que nasceu, ela convive com epidermólise bolhosa, um grupo de doenças não contagiosas, de caráter genético e hereditário, cuja principal característica é a formação de bolhas e lesões na pele, que se assemelham a asas de borboleta.
Nela, a doença se apresenta na forma grave e afeta as funções das mãos, o que exige cuidados diários, como a troca de curativos.
Fernanda conta que por morar numa cidade pequena, os médicos não conseguiram diagnosticar o problema. A mãe dela, então, a deixou isolada em casa por um mês e em seguida a levou para São Paulo, onde os médicos diagnosticaram que ela sofria de epidermólise distrópica recessiva. A doença não nunca a fez desanimar. Ao contrário.
Fernanda: “Muito além da doença acredito que nossa mente nos limita, acredito que tudo é possível quando temos uma força interna que nos move”. Foto: Instagram
Fernanda conversou com o Eufemea a quem contou de onde vem a determinação para lutar por seus sonhos.
“Nasci com epidermólise bolhosa que basicamente deixa minha pele mais sensível e causa bolhas que posteriormente se tornam ferimentos. Pela sensibilidade, minha pele é comparada com asas de borboleta. A primeira ferida surgiu no joelho logo quando nasci”, ela conta.
Quanto a preconceito, Fernanda fala que nunca percebeu. “Por incrível que possa parecer nunca sofri preconceito, as pessoas me acolhem com muito carinho e respeito. Isso sempre foi muito importante pra mim”, afirma.
Para ela, a limitação vem muito mais do pensamento do que do corpo. “Muito além da doença acredito que nossa mente nos limita, acredito que tudo é possível quando temos uma força interna que nos move”, responde Fernanda quando indagada se a doença traz limitações a ela.
É no convívio, amor, ambiente seguro e lições da família que ela vai encontrar as respostas para seu estado de espírito e altivez.
“Minha família é minha base, sempre me deu todo apoio do mundo. Sou imensamente grata por cada membro da minha família tanto materna quanto paterna. Nasci no interior da Bahia numa cidade chamada Livramento de Nossa Senhora, de 50 mil habitantes. Sou filha única e moro com minha mãe e minha avó mas meu pai é muito presente na minha vida, nos falamos todos os dias”, revela.
Ela conta que ainda não atua nas áreas que ama, mas segue persistindo seu sonho. “Sou apaixonada por moda e beleza! Ainda não atuo nessa área, mas sonho em ser referência e inspiração no meio que para mim vai muito além de superficialidades, para mim é uma forma de empoderamento e autoaceitação”.
A beleza da jovem e as postagens no Instagram onde mostra que nada pode ser limitador ao ser humano, a fizeram ‘bombar’ no Instagram e o número de seguidores só cresce. Hoje 15,9 mil a seguem na rede.
“Sou apaixonada por fotografia também e depois que passei a postar venho crescendo cada vez mais e recebendo muitos comentários positivos”, diz Fernanda, que segue inspirando ao conversar com outros jovens com o mesmo problema dela, fazer amizades e se sentir representada.
“Cada dia que passa percebo o impacto positivo que venho causando e isso é muito importante pra mim. Me traz propósito e é uma honra poder servir de inspiração para pessoas que não conheço, mas me trazem tanto carinho. É uma troca recíproca de muita luz”, afirma.
O Instagram, para ela, representa um recomeço. “Eu acho é uma forma de me comunicar com as pessoas e trazer um pouco do meu mundo para elas, acho que é uma troca de carinho muito recíproca e me faz muito bem”, diz Fernanda, ao falar sobre ‘capacitismo’.
“Capacitismo é um tipo de preconceito muito comum. Por exemplo, às vezes alguém diz: nossa você é uma guerreira, parei de reclamar da vida quando te conheci … É tipo como se a pessoa diminuísse a sua história pra se sentir melhor, sabe? Eu tive o primeiro contato com essa palavra com uma amiga que também tem epidermólise, ela se chama Tauane e estuda Psicologia”, conta.
Quando aos estudos, Fernanda diz que concluiu o ensino médio e optou por não fazer faculdade “porque nunca tive um plano de vida muito comum, padrão sabe? Acho que isso nunca combinou com meu estilo de vida e hoje eu enxergo isso com muita clareza, sei da importância do estudo e futuramente eu posso sim mudar de ideia, mas agora estou focada em outros assuntos que me consomem muito”.
O período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus trouxe a alguns casais uma outro problema: o divórcio. Pesquisas comprovam que os casais estão se divorciando mais nesse período. De acordo com um levantamento do Google para Pais&Filhos, em março o site de buscas registrou aumento de 82% na pergunta “como dar entrada no divórcio?”
Outro dado que chama atenção é que, em abril, houve um salto de 9.900% no interesse de buscas pelo termo “divórcio online gratuito”. Um fato curioso sobre isso é que as pesquisas também apontam que as mulheres estão pedindo mais o divórcio do que os homens.
Para a advogada especialista em direito da família Bárbara Ribeiro, esse aumento no número de divórcios ocorre pela convivência estar intensificada no período da quarentena. “Aqueles casais que já estavam com problemas no relacionamento, que já não estavam bem, todos esses problemas foram aflorados e a convivência cada vez mais difícil”, explicou.
Bárbara disse que muitas mulheres ainda mantêm casamentos mesmo estando infelizes e são dependentes financeiramente do marido. “Infelizmente as mulheres ainda ganham menos que os homens, e na maioria dos casos a mulher, ainda que trabalhe, tem a menor remuneração da casa e isso pesa muito na hora do divórcio”, comentou.
A baixa autoestima também é um motivo para que as mulheres fiquem “presas” ao relacionamento. “As mulheres não conseguem perceber que sofrem pressão psicológica para um padrão de comportamento, de corpo, então acabam achando que se sair daquele relacionamento não vão conseguir outro. E isso também envolve a dependência emocional daquela pessoa, muitas vezes por ter uma dependência econômica por ter a sensação de inferioridade, acabam tendo também desenvolvendo uma dependência emocional.
E por fim os filhos, pensam na criança e educação da criança/adolescente naquele padrão de vida, na sociedade ainda, também”.
Segundo a advogada, o número de divórcios deve aumentar ainda mais depois da quarentena. Para ela, será um verdadeiro “boom de divórcios”. “Ainda tem a influência financeira que muitas mulheres ficaram com medo por causa da pandemia, então quando passar a pandemia, provavelmente, as mulheres vão organizar a parte financeira e o divórcio vai acontecer”.
A pandemia, de acordo com a advogada, trouxe duas vertentes para gerar esse aumento no número de divórcios: a primeira que se trata das pessoas que estavam no casamento infelizes e as que são impulsivas. “As pessoas impulsivas procuram um advogado por causa do momento de raiva, mas na outra semana a raiva passa e não querem continuar continuar com o processo”.
Divórcio online
A pandemia também trouxe uma novidade para os que pretendem se divorciar: o divórcio extrajudicial de forma virtual. “Isso é muito recente. Mas não considero que agora seja a melhor época para se divorciar. Só se for o caso daquelas pessoas que já estão preparadas e que estavam organizadas”.
Bárbara disse que não acredita que seja o melhor momento para divorciar-se por causa da questão financeira, do arrependimento. “Não estamos falando nos casos de violência doméstica, que é outro índice que infelizmente aumentou na pandemia, e nem daqueles que já se organizaram para isso, mas no caso das pessoas mais impulsivas”, esclareceu.
“A pandemia não é o momento ideal. Está tudo aflorado. Mas se a convivência estiver muito insuportável, aí nós fazemos o divórcio e podemos resolver as outras pendências depois”, e completou dizendo: “temos a opção também de um acordo temporário, mês passado fiz um nesses termos, enquanto durar a pandemia o ex marido vai arcar com o plano de saúde da ex mulher por exemplo, para ela não ficar desassistida nesse período, são opções também para contornar as possibilidades de arrependimento, para viabilizar um acordo mais real e palpável”.
Bárbara enfatizou que antes de tomar uma decisão é fundamental que a pessoa procure um advogado especialista para uma orientação.
O desabafo foi feito no twitter e o que a enfermeira Stephanie Ágata não imaginava era que ganharia tamanha repercussão. Pudera! Na rede social, a jovem relata o que se passa com ela todos os dias trabalhando em um hospital no momento da pandemia do novo coronavírus, enquanto pessoas circulam indiferentes aos riscos de contágio, agravando ainda mais a situação de tragédia vivida pelo Brasil com mortes em escala crescente.
Até essa quinta-feira (25) já eram 187 mil curtidas e mais de 30 mil retweets na postagem onde ela desabafa: “Eu passei 12 sofridas horas sem intervalo, não comi, fui ao banheiro uma vez, sentei por 1 hora para evoluir os pacientes…A máscara n95 apertou tanto meu rosto que eu tô sentindo dor nos dentes. Enquanto isso a galera aproveitando o calorzinho. Eu desisto”.
Stephanie é carioca, enfermeira há um ano e meio, e mora em Porto Alegre (RS) há 7 anos. Ela conversou com o Eufemea, a quem contou por que decidiu desabafar numa rede social e traz o drama de quem está dentro dos hospitais, tentando salvar vidas de pessoas infectadas pelo vírus.
“Na verdade, eu não esperava que o meu relato viralizasse, eu tinha 48 seguidores, sempre usei o Twitter para expressar minha opinião, me informar e interagir com pessoas que trabalham na área da saúde também. Naquele dia eu tive um plantão exaustivo. As pessoas não imaginam como é utilizar aqueles EPI’s por 12 horas, a máscara é extremamente desconfortável, é difícil respirar, tomar água e até falar, o Face Shield é pesado e machuca a nossa cabeça… São inúmeros desconfortos, mas isso nem se compara ao desconforto que sentimos ao ler os jornais, assistir as notícias e acompanhar as redes sociais”, diz Stephanie.
Ela conta ter se sentido “muito desrespeitada naquele dia, porque após um plantão caótico e exaustivo, eu saí e vi um grupo de jovens em uma praça bebendo, todos sem máscaras. Foi nesse momento que fiz o tuíte, em um ímpeto de raiva, angústia e frustração. O sentimento foi de impotência… Senti que falhamos como sociedade, como cidadãos”.
A enfermeira relata ainda que trabalha à noite. “Faço plantões de 12 horas, e hoje minha equipe está completa, o que é uma dádiva. Temos pacientes de Covid-19, mas a sobrecarga psicológica acontece também por conta dos pacientes que não são positivos pro Covid-19. Trabalho principalmente com idosos, pessoas com imunidade frágil, alguns no fim da vida. Isso torna a nossa responsabilidade ainda maior”, revela.
Lidando diariamente com os pacientes infectados pela doença, ela diz que “o Covid-19 mata as pessoas de uma maneira sofrida, sem dar chance de se despedir dos familiares e de ter um enterro digno. No mundo dos cuidados paliativos, no qual a morte é inevitável, a forma de morrer é muito importante. Eu jamais dormiria tranquila sabendo que estou colaborando para que pessoas morram dessa maneira”.
Num outro relato no tuíte, Stephanie também conta que há alguns dias sofeu de paralisia do sono. “Foi uma das coisas mais traumáticas que já aconteceram comigo. Provável motivo: estresse, ansiedade, tristeza profunda, exaustão física”, diz. “Na verdade eu estava dormindo. Paralisia do sono acontece geralmente quando a pessoa está acordando, é um estado em que a pessoa fica consciente, mas o corpo não consegue se mexer. Muitas pessoas sofrem disso em momentos de estresse. Acredito que no meu caso não tenha acontecido apenas por conta do trabalho. Eu perdi conhecidos pra COVID e agora meus avós estão infectados. Fora todas as outras fontes de estresse que enfrentamos diariamente”, ela fala.
Stephanie diz nunca ter imaginado que passaria por esta situação. “Em dezembro de 2019, consegui meu primeiro emprego na área, um hospital de cuidados prolongados 100% SUS. Trabalho com reabilitação e com cuidados paliativos também. Nunca imaginei que enfrentaria uma pandemia durante meus primeiros anos como enfermeira, mas sempre me lembro da história da enfermagem, uma profissão que “nasceu” durante uma guerra. E hoje a situação não é tão diferente quanto naquela época. Isso faz com que eu enxergue um propósito no meu exercício, mesmo diante de tantas dificuldades”, diz.
O hospital em que trabalha, conta Stephanie, “não é referência para pacientes com Covid-19, porém, no decorrer da pandemia, não tivemos como escapar ilesos. Muitos colegas se infectaram, e vários pacientes também. Foram semanas difíceis, sofremos com a falta de funcionários, com a exaustão física dos que permaneceram trabalhando pra cobrir a defasagem, mas sinto que isso nos fortaleceu, como instituição e como colegas de profissão”.
Na enfermagem, a situação sempre foi muito complicada, ela diz. “A pandemia apenas escancarou a nossa realidade. Sempre sofremos com a defasagem de quadro funcional, com jornadas exaustivas, a sobrecarga de trabalho, a desvalorização, a remuneração muito desproporcional. Muitos acabam optando por dois empregos, pra poder sustentar a família ou viver de uma maneira mais digna”, relata.
E lança um apelo à população: “Fica o meu apelo a todos aqueles que ainda duvidam do poder destruidor dessa pandemia. Pensem no coletivo! Nunca avançaremos como sociedade enquanto continuarmos perpetuando o egoísmo. É impossível ensinar alguém a ter empatia, esse sentimento é orgânico, mas é possível informar todos aqueles ao nosso redor, é possível escolher fazer a coisa certa”.
Lugar de mulher também é na política e a ONG #ElasNoPoder veio para mostrar isso. Karin Vervuurt, socióloga, mestre em ciência política e cofundadora do #ElasNoPoder conversou com o Eufemea e contou como a ONG foi criada, os principais desafios de ser mulher em um meio machista e disse que para as eleições 2020, o número de mulheres na política não deve crescer por causa da pandemia.
Karin, 28 anos, fazia mestrado em Brasília quando conheceu Letícia Madeiros. As duas decidiram abrir uma empresa de pesquisa para prospectar clientes em 2018. Entretanto, as duas jovens não imaginavam que iam encontrar pela frente uma área masculinizada e o machismo.
“Nós tivemos problemas porque tentávamos vender consultoria política e pesquisa para as candidaturas masculinas, e a gente não conseguia. Os homens olhavam para duas mulheres jovens e achavam que não daríamos conta”, contou Karin ao Eufemea.
Por causa disso, as duas passaram uma crise pessoal. “A gente também percebeu que não conseguia acessar as candidatas mulheres porque elas não tinham grana e não conseguiam pagar, nem acessar serviços melhores”, disse.
Foi daí que as duas criaram a ONG #ElasNoPoder. “Acredito que a crise levou a gente a ficar criativa”. Ambas se dedicaram ao estudo e lançaram a ONG que começou dando certo. “A procura foi grande e isso animou a gente”, falou Karin. Ainda em 2018, elas chegaram a trabalhar na campanha da candidata Marina Silva.
Mais mulheres na política
A ONG faz trabalhos em diversas áreas e tem o propósito de tornar as campanhas femininas mais competitivas, além de fazer com que as mulheres saiam vitoriosas. “Nós fazemos pesquisa sobre o perfil da mulher, produzimos materiais de treinamento para campanha eleitoral, criamos uma plataforma chamada impulsa e temos programas de mentorias”, explicou.
A co-fundadora Karin sabe que a participação da mulher ainda é pequena, mas é por isso que elas lutam para que esse cenário mude. “Nós somos um dos piores países com a participação feminina pequena”, disse.
Segundo Karin, a ONG não tem um viés ideológico, mas é preciso que as mulheres tenham pautas feministas. “A mulher precisa acreditar que representação é um problema, e acreditar que o espaço político é pertencente às mulheres”. Para ela, não há preocupação com o partido, já que elas têm participantes de todos os grupos.
E em 2020? Mais mulheres na política?
Esse ano é de eleição. Mas segundo a socióloga Karin, com a chegada da pandemia será mais difícil eleger mais mulheres. “No começo do ano achava que a realidade seria outra, mas pelo visto não, infelizmente”, lamentou.
Na opinião de Karin, com as mulheres em casa, elas estão se dedicando aos filhos, ao lar, ao marido. O que acaba se tornando uma barreira. “Vai ser difícil eleger mais mulheres. O que a gente tem visto é que as mulheres estão desistindo bastante porque está difícil conciliar campanha eleitoral que demanda tempo e dinheiro com a família”.
A realidade, de acordo com ela, é que não vai aumentar a representação da mulher na política. “Esse ano ainda não. Mas lá pra frente pode ser que a gente consiga engrenar a representação”.
Por fim, a co-fundadora pediu que as mulheres procurassem o #ElasNoPoder e que entrem na política. “Estudem, estruturem a campanha, busquem o Elas e saiam bem preparadas”, aconselhou.
A festa de São João é uma das mais tradicionais para o povo do Nordeste e é aguardada com ansiedade para quem ama o mês de junho. Entretanto, por causa da pandemia, as principais cidades precisaram cancelar a festa junina. Mas engana-se quem achou que os nordestinos não iam se reinventar e levar o São João para dentro de casa, respeitando o isolamento social.
O Eufemea trouxe a história de três alagoanos que transformaram a noite do dia 23 em alegria. Teve traje junino, comida típica, decoração, forró e muita alegria.
Junho é mês de alegria na casa da aposentada Myria Azevedo. A tradição das festas juninas é comemorada com arrastá-pé, ao som do forró, comidas típicas e o colorido da decoração da casa, que ela cuidadosamente decora para receber os convidados.
Esse ano, por conta da pandemia do novo coronavírus, o número de pessoas vai se limitar apenas ‘aos da casa’, como afirma, mas nem por isso ela vai deixar de celebrar São João.
“Sempre gostei do mês de junho, o mês mais alegre do ano, o mês onde comemoramos os festejos juninos. Sempre decoro minha casa, faço comidas típicas e curtimos bastante forró”, conta Myria.
Na casa de Myria, a comida típica ganhou espaço
Mesmo com o momento que estamos vivenciando, ela diz, “não deixei de enfeitar minha casa, para ficar mais alegre, tirar um pouco da tristeza que estamos passando. Infelizmente não podemos compartilhar como nos outros anos, com muita gente. Amo receber em minha casa. Mesmo assim vamos comemorar com os de casa mesmo”, diz Myria.
“Este ano, por conta das doenças pulmonares que podem se complicar com a fumaça das fogueiras e dos fogos de artifício, não vamos ter fogueira nem fogos, mas fiz uma bela fogueira fake, pra completar o cenário da noite mágica de São João”, disse.
Casal animado
A advogada Manuella costa, 35 e o empresário Rick Lima, de 37 anos, sabem aproveitar bem a vida e a relação. Os dois tinham costume de viajar na época de São João, mas por causa da pandemia, a viagem ficou para outro momento.
Casal não perdeu a alegria da celebração
Só que nem o atual cenário fez com que o casal deixasse de viver a época junina do jeito que os dois amam. Junto com os dois filhos – sendo um de 14 e outro de 6 anos – Manuella e Rick providenciaram uma verdadeira festa dentro do apartamento que moram no bairro do Farol. E ainda levaram o espírito junino para os vizinhos.
“Onde moro, nós dois e os vizinhos carinhosamente nos presenteamos com quitutes, troca de petiscos. A intenção é que nos sintamos mais próximos. Está sendo animado do mesmo jeito”, contou a advogada.
Ela também destacou que para que eles fiquem mais próximos das pessoas que eles gostam, o casal resolveu fazer chamada de vídeo com os amigos e familiares, com direito a brinde e muito forró.
“Esse é o primeiro ano que passamos em casa, mas aproveitamos e nos divertimos. Precisamos nos adaptar ao momento, né? Afinal, é a melhor festa do ano”, disse a advogada.
Significado especial
É nas memórias afetivas da infância que a jornalista Patrícia Machado encontra as palavras para definir a importância das festas juninas para ela e de preservar a tradição.
“O período junino tem um significado muito especial para mim. Vivo toda a sua magia de diferentes maneiras, cada uma mais incrível que a outra”, diz.
“Primeiro, nas memórias de minha mãe, que é do Sertão e viveu a infância na fazenda, com a casa cheia de gente e a roça do milho quase ao lado da cozinha. Era um tempo analógico, em que a família tinha que preparar sua comida, que era natural, colhida no quintal de casa, temperada com o coco seco ralado na hora e o leite fornecido pelo gado no curral”, lembra Patrícia.
As lembranças, que ela preserva bem vivas e presentes, se traduzem na casa cheia, as roupas e comidas típicas.
“Já nas minhas próprias memórias de criança, a magia do vestido, da maquiagem e das fitas coloridas, chapéu com tranças, bandeiras, fogos e músicas ao vivo, com aquele trio de senhorzinhos que eu mal conhecia, mas era responsável por promover muita alegria e cumpria sua missão com maestria. Aqui também, casa cheia, comida preparada e degustada com a participação de muita gente”, conta.
O tempo, como nosso grande desafio, diz Patrícia, “muda muitos costumes. Aos poucos, o milho vai ficando longe, as pessoas vão morando mais distantes, as festas vão dando mais trabalho para serem elaboradas. Mesmo assim o espírito permanece, e em menor proporção a celebração acontece. Sempre com aquele sentimento de que há uma fogueira aquecendo e nossos corações”.
Então, segue Patrícia em sua narrativa de lembranças do passado e da atualidade, “mesmo com tantos buffets excelentes oferecendo comidas de milho prontas, essa, feita em casa e com a participação de todos, tem o melhor sabor do mundo”.
Esse trabalho coletivo em torno do alimento, afirma, “ajuda a manter as relações saudáveis e nutridas, em corpo e espírito. São uma prova viva de que quando nos unimos em torno de um objetivo, ele vai acontecer e de maneira muito prazerosa. Meu filho é um sortudo de viver esse momento e quero que ele, por si só, perceba a importância e a alegria de se preservar uma tradição saudável”.
Foto principal: Enfermeira e Doutora em Saúde, Aracele Tenório
Muito tem se falado do novo normal. Na primeira parte da reportagem do Eufemea publicada ontem (22), trouxemos as análises de uma economista, uma cientista política e uma psicóloga. Mas hoje queremos falar sobre educação e saúde. A educação foi afetada em todo mundo: paralisou atividades, fez com que professores e estudantes precisassem de uma uma nova rotina. Por outro lado, a saúde não parou. Será que pós-pandemia os profissionais da saúde serão os mesmos?
Como será o novo normal daqui por diante? Hoje trazemos a análise da professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Lídia Ramires, da Consuelo Correia, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal) e da enfermeira e doutora em Saúde Aracele Tenório.
Educação à distância é uma realidade
A professora Lídia Ramires disse que “do ponto de vista acadêmico, esse tempo que foi passado pode, sim, e será recuperado, no sentido de poder dar esse conteúdo a partir da retomada das atividades da forma que for definida”.
“Isso é uma constante para a gente na realidade de universidades públicas, por exemplo, quando há paralisação por conta de uma greve que se estenda. Às vezes as pessoas estranham porque o calendário acadêmico não é o mesmo do calendário gregoriano. Então tem esse atraso, entre aspas”, comentou Lídia.
Lídia Ramires, professora da UFAL
“As aulas remotas não foram adotadas pela Ufal, mas nós sabemos, principalmente em relação ao ensino básico, fundamental, e de forma muito mais forte em colégios particulares, que as aulas remotas estão sendo realizadas, inclusive em cursinhos, aula de reforço, casas de cultura, de idiomas. Mas no caso da Ufal as aulas estão suspensas, por decisão do Conselho Universitário, que é a instância superior da Universidade”, explicou Lídia.
Segundo ela, a educação à distância é um realidade. “Vamos pensar que a gente tem conteúdo em aulas remotas desde antes da TV, em rádio já existiam rádio-aulas, o telecurso segundo grau. Há uma quantidade de material na internet para aulas remotas. Essas aulas funcionam, mas não como as aulas presenciais. É uma sistemática diferenciada e principalmente demanda elaboração prévia desse material. Você não pode substituir uma aula presencial por uma aula remota simplesmente fazendo o que seria um aula presencial em frente a uma câmera. Acho que aí está o principal equívoco”.
Lídia disse que acredita na educação como forma revolucionária. “E um situação dessa como a pandemia, está agravando na verdade as diferenças sociais. A gente vê que muito mais do que o acesso à saúde, essa diferença implica necessariamente em acessos outros que vão se refletir na educação. Alguém que não tem condições mínimas, elas se estendem também para o acesso à informação e à educação”.
A professora também explicou que é papel dos profissionais de educação pensarem, conversarem e apresentarem propostas. “É claro que nesse momento nós profissionais da educação nos dividimos em questões básicas, específicas de sobrevivência e luta por saúde física e mental também”.
Lídia disse que fica incomodada, muitas vezes, com as críticas a esse modelo que está sendo implantado forçosamente de aulas remotas em que professoras e professores não têm preparação, equipamentos e condições básicas. “Porque se a sua criança está na frente do computador, do celular, com quem estão as crianças filhos e filhas dessas professoras e professores. A gente está vivendo momento de extremo questionamento”.
Para ela, o desafio mais uma vez é se reinventar. “É uma classe profissional das mais importantes na sustentação de uma sociedade e com menos reconhecimento e menos investimento. E a gente está indo para três meses de isolamento e vendo que isso continua”.
É preciso que tenha garantias para os professores
Consuelo Correia, do Sinteal, disse que “a pandemia aprofunda uma desatenção do estado nessas áreas, nos últimos anos, com a precarização profunda das relações de trabalho e os cortes orçamentários impostos pela Emenda 95 da Constituição Federal em certa medida prejudicaram a oferta de políticas públicas, o que expõe ainda mais a população neste momento de pandemia”.
Maria Consuelo
“No que concerne às discussões relacionadas ao retorno presencial das atividades, o movimento sindical entende que a preocupação número um é a saúde de trabalhadores e usuários dos serviços públicos. No calendário de volta das atividades posto pelo governo estadual, a educação é a última atividade quanto ao retorno presencial, como deve ser, com previsão do retorno às aulas no início de agosto. Nós entendemos que este retorno só poderá acontecer se houver as garantias quanto às condições sanitárias, com controle da pandemia”, justificou.
A presidenta do Sinteal também reforçou que a educação pública é mais necessária do que nunca.
“A crise econômica que acompanha a pandemia aumenta a demanda social pela escola pública. É necessário que se compreenda essa necessidade como responsabilidade, como dever do poder público quanto à utilização dos aparelhos sociais para emancipar vidas e pela reconquista dos avanços civilizatórios necessários para a plena superação dos efeitos da crise. Então, é preciso que a sociedade dispute a retomada após a pandemia no intuito de que o Estado cumpra o seu papel constitucional de garantir ao conjunto da população o pleno acesso aos direitos”, destacou Consuelo.
Profissionais da saúde não serão mais os mesmos
A doutora em Saúde Aracele Tenório acredita que com o “novo normal”, os próprios profissionais da saúde terão mudanças de atitudes importantes.
“Os cuidados de proteção individual na área da assistência aumentarão de forma considerável e a visão dos gestores da saúde também passarão por uma revisada nos conceitos de segurança profissional”, disse. Com isso, eles vão “finalmente entender que quando o profissional exigir equipamentos de proteção individual, ele não está fazendo isso para dificultar assistência ao paciente e sim exigindo algo que lhe é de direito”.
Para ela, a covid mostrou aos profissionais que a contaminação pode acontecer com qualquer um. “Era comum na área de saúde a maioria dos profissionais exitarem usar alguns equipamentos de proteção (como óculos ou face shield) por acharem proteção exagerada e que dificultava boa visibilidade para realização de procedimentos”.
Entretanto, com a covid-19 “com certeza esse olhar mudou e os profissionais passaram a adaptar- se na rotina do plantão com todos os EPIs prestando atenção adequada na paramentação e desparamentação”.
A doutora enfatizou que a população vai ter uma mudança de comportamento e que vai reforçar o hábito de higiene das mãos, etiqueta de tosse e espirro serão mais frequentes também.
“O uso de máscaras será mais comum a todos. Ninguém vai ficar com “vergonha” de se expor num local público usando máscara no rosto. Tal hábito se tornará comum entre as pessoas mais cuidadosas, talvez mesmo em anos após a pandemia”, afirmou Aracele.
Ela também acredita que o uso de máscara entre as pessoas com sintomas gripais ou de resfriados também fará parte do novo normal. “As pessoas mais conscientes não terão mais o descuido de ao apresentar sintomas gripais, de entrar numa sala fechada com ar condicionado, sem máscara, tocando em objetos comuns sem antes higienizar as mãos”.
“Se por um lado vimos pessoas se isolarem para proteger o coletivo, salvar vidas, preservar o sistema de saúde e evitar colapso, por outro lado vimos pessoas negarem a situação, incentivando a quebra dos cuidados e a deturpação de fatos óbvios de âmbito mundial e isso é bem grave. Muitos desses foram responsáveis diretos ou indiretos por mortes por Covid-19”, finalizou a doutora.
Está cada vez mais perceptível que as pessoas querem viver a vida de antes – quando não existia pandemia -. Ninguém esperava viver em um mundo usando máscaras, álcool em gel e ficando distante de quem se ama. Algumas cidades estão voltando aos poucos (reabrindo comércios e pessoas voltando ao trabalho). É o novo normal que se pode ter. Afinal, a pandemia não acabou.
Mas será que estamos prontos para viver esse novo normal? O que muda? Como será nossa vida daqui pra frente? O fim da pandemia parece distante ainda, mas mesmo com os casos crescendo no país, a flexibilização em algumas cidades já está acontecendo.
O Eufemea conversou com especialistas para saber: estamos prontos para o novo normal? A primeira parte da reportagem você confere abaixo.
Economia: como fica?
Países entraram em recessão e a avaliação de especialistas é que a recuperação econômica levará anos. No Brasil, com a crise política, a situação que já era grave, tente a piorar. A economista Luciana Caetano e a cientista política Luciana Santana trazem a análise do cenário atual e futuro.
Para a economista Luciana Caetano, o ser humano tem uma capacidade extraordinária de se adaptar às mudanças como estratégia de sobrevivência e a Covid-19 impôs mudanças profundas na organização da produção, nas rotinas de trabalho e nas relações sociais, de modo geral.
Luciana Caetano
“O IBGE aponta retração nos mais diversos setores da economia em março e abril/2020, mais branda nos serviços de tecnologia da informação e comunicação (TIC). Essa é uma ferramenta que já havia sido incorporada a alguns setores e ganha um novo status com a pandemia. Ao que parece, as mudanças incorporadas ao sistema de produção e circulação de mercadoria nessa crise pandêmica permanecerão e farão parte a nova realidade”, explicou.
Sobre a esfera pública, Luciana Caetano explicou que não se sabe se União, estados e municípios compreenderam que essa crise impõe a urgência de maior protagonismo do Estado, tanto na elevação de investimentos públicos para retomada do crescimento econômico, como na regulação direcionada ao equilíbrio das forças antagônicas guiadas pelos interesses dos que dependem de salários e dos que dependem de lucros.
“O país reduziu a desigualdade social entre 2003 e 2014, mas não o suficiente para suportar as reformas impostas a partir de 2016, sob o argumento equivocado de equilíbrio fiscal. O congelamento dos gastos públicos, assim como as reformas trabalhista e previdenciária produziram um grande retrocesso ao país, sob todos os aspectos. A nova realidade exige que o Estado volte a assumir o controle e a responsabilidade de assegurar proteção social como um direito universal”, comentou a economista.
De acordo com ela, encerrado completamente o isolamento social, as atividades produtivas tenderão à normalidade, porém, fortemente influenciadas pelas novas ferramentas de tecnologia da informação e comunicação já incorporadas. “Não é possível prever o percentual de desocupação a ser gerado a partir da utilização dessas novas ferramentas, mas é certo que elas afetarão a reorganização das atividades produtivas após a pandemia, assim como também é possível que novas atividades surjam e outras sejam extintas”, disse.
Impactos serão de médio, curto e longo prazo
A cientista política Luciana Santana também trouxe a avaliação de como será esse novo normal do ponto de vista econômico. “A gente já tem noção que os impactos sociais e econômicos vão ser de médio, curto e longo prazo. Ou seja, por mais que a gente tenha a pandemia daqui a alguns meses a pandemia já com um certo controle, os impactos vão continuar e aí os governos vão ter que se organizar para tentar de alguma maneira minimizar e reduzir os danos, principalmente para as populações mais vulneráveis, que acabam sendo afetadas diretamente”, justificou.
A cientista política disse que há estudos da universidade que apontam que é necessário e emergencial que os governos mantenham as medidas rígidas. “E somado a isso eu acrescento que não adianta medidas rígidas se você não tem uma fiscalização adequada, se não exige o cumprimento e se não houver também uma cooperação dos entes federados e aí estou falando no caso dos municípios. Nem chego a falar de governo federal porque parece que a pandemia não é a prioridade”.
Luciana Santana, cientista política
Luciana Santana também reforçou que a Assembleia Legislativa também tem um plano de algumas medidas de enfrentamento da pandemia, algumas medidas bastante importantes, que precisam ser incorporadas à agenda de governo, inclusive para contribuir com o enfrentamento da pandemia, tanto agora, no curto prazo, como também nos próximos meses. “São problemas sérios, que vão precisar ser enfrentados de forma conjunta, tanto pelos Executivos quanto pelos Legislativos”, reforçou. Luciana disse que vê em Alagoas uma ausência de ações e posições de legisladores em relação à conscientização da população sobre o cumprimento das regras previstas pelos decretos.
“A grande solução para que todos esses impactos da pandemia sejam enfrentados de forma bastante lúcida e minimizados é justamente a parceria e a cooperação tanto intergovernamentais, mas também entre os poderes. A interlocução do Legislativo e Executivo nesse momento no âmbito dos estados, dos municípios, é extremamente saudável para o resultado final em relação a esse enfrentamento”, enfatizou Luciana.
E do ponto de vista psicológico?
A psicóloga Kamila Cabral disse ao Eufemea que recentemente ouviu a seguinte frase: “Depois do Coronavírus ninguém mais sabe o que será”. Para ela, a iminência do vírus provocou desajustes nos hábitos, imposição desvelada de se haver com a finitude, encontro com a realidade crua de que a ideia que se pode controlar tudo é algo ilusório frente à força brusca da natureza. “Isto é, houve um furo na idealização de completude humana”, explica.
Psicóloga Kamila Cabral
Segundo Kamila, o vírus é algo inanimado, invisível, atinge e ameaça a vida. “É um encontro forçado com algo que fura a trama de repertórios, há a falta recursos para lidar com. O que reenvia o sujeito para a condição de desamparo humana”, disse.
A psicóloga disse que o encontro com a impossibilidade de simbolização como incidência de uma ruptura como a pandemia expõe, obriga o sujeito a abandonar a posição que outrora era ocupada.
“Penso que o momento que estamos vivendo seja uma travessia. Travessia diz respeito a passagem de uma posição a outra, provocada por um encontro abrupto com algo que fura a significação. Travessia no sentido da saída de um lugar conhecido, para um lugar qualquer”, reforçou a psicóloga.
De acordo com Kamila, em uma travessia há a impossibilidade de sair ileso. “Isto é, não se pode sair do mesmo jeito que entrou”, disse.
Para ela, quando se pensa sobre “o novo normal” é preciso considerar não somente os novos hábitos, mas como o encontro com a realidade outra que os efeitos da pandemia produzem nos cotidianos e de como esse advento se insere na história de cada um”
“Retomando a frase que citei, não há receita para o que será no futuro, o encontro com o desamparo é justamente isso, no entanto, a falta de respostas não deve se encerrar em si”, finalizou.
A aldeia Gameleira, do povo tapuya kariri, está localizada a 360 km de Fortaleza, e a 9 km de São Benedito, município do Estado do Ceará. A distância não impede que os índios da Escola Indígena Francisco Gonçalves de Sousa tenham aulas, que chegam online via WhatsApp e nesse momento de isolamento social, com a pandemia do novo coronavírus, fazem a diferença. Para os alunos que não têm acesso à tecnologia, as atividades são impressas e levadas para a casa deles. Já no Espírito Santo, o esforço vem de uma aluna do curso de Medicina, que criou um perfil no Instagram para compartilhar conteúdo com estudantes que vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O Eufemea conversou com a professora Andrea Rufino da Silva, do Ceará, e a estudante Anna Carolina de Assis Ribeiro, do Espírito Santo, e traz os relatos das iniciativas para levar conhecimento a quem mais precisa nesse período de pandemia.
Com as aulas presenciais suspensas desde o dia 18 de março por decreto que determinou o isolamento social, é à internet que a professora Andrea Rufino, cacique do povo tapuya kariri, atualmente diretora da escola, leva conteúdo para os estudantes.
“Mantivemos o calendário letivo e elaboramos um plano de ações para executar durante a pandemia”, ela conta. “Atendemos 300 alunos, sendo 15 não indígenas. Temos os mesmos componentes curriculares das escolas convencionais e a nossa parte diversificada que trabalhamos os componentes artes, expressão corporal, espiritualidade indígena e cultura”, diz.
E explica como funcionam as atividades. “Os nossos recursos são grupo de WhatsApp. Cada turma tem seu grupo e as atividades são mandadas pelo WhatsApp. Os alunos que não têm acesso à tecnologia, a gente imprime as atividades e deixa nas casas deles. Essa iniciativa funciona 70% se levamos em consideração esse momento excludente, pois a maioria das famílias não tem acesso à internet e nem tem celular para que os filhos possam estudar”, afirma Andrea Rufino.
Apesar do esforço, ela é realista quanto aos resultados. “Os resultados infelizmente não são tão bons, pois o cenário que estamos hoje é uma situação nunca vivida por nós. Estamos tendo que abrir mão do contato com os nossos parentes (alunos) e o que é mais complicado é que temos que driblar também a necessidade muitas das vezes de comida das famílias em vulnerabilidade, pois temos famílias que a única refeição era feita na escola. O ensino- aprendizagem está com uma deficiência muito grande, porque temos famílias que não acompanham seus filhos do jeito que era para acompanhar, infelizmente”, ela lamenta.
Para o pós-pandemia, afirma a cacique, “é correr atrás do prejuízo e tentar recuperar os alunos que não atingiram a meta que gostaríamos”.
Compartilhando conhecimento
Já no Espírito Santo, o esforço para compartilhar conhecimento com quem está longe da sala de aula desde que foi declara a pandemia, vem da estudante do primeiro período de Medicina Anna Carolina de Assis Ribeiro, 17 anos. Com as atividades da faculdade paradas, ela decidiu dedicar parte do tempo a dividir material de estudos com alunos que vão fazer o Enem.
Anna Carolina: “É uma sensação surreal! Não esperava uma repercussão tão grande e fico imensamente feliz de estar contribuindo pelo menos um pouco”
“As aulas foram suspensas há mais de 3 meses. No começo eu me sentia melhor, achava que voltaríamos rápido e estava seguindo minha rotina normal, já que minha faculdade adotou o EAD [Ensino a Distância] desde o início. Mas, com o passar do tempo, ficou muito mais difícil para manter o mesmo foco, já que ficamos sem previsão de volta e com uma situação cada vez mais lamentável no país e no mundo”, diz.
“É difícil manter a concentração quando se vive um momento histórico, ainda mais passando o tempo todo dentro de casa. Além disso, também sinto muita falta da prática. Sou uma pessoa muito visual e entender a anatomia e vascularização de um órgão, por exemplo, seria muito mais fácil com a peça na mão”, relata Anna Carolina.
Mas e a passar material de estudos para quem vai fazer o Enem, como surgiu? “Eu sempre gostei de transmitir para os outros o que aprendia, gostava muito de compartilhar com meus pais e meu irmão, por exemplo. Quando descobri que existiam pessoas que compartilhavam seus estudos e dicas voltadas para isso no Instagram fiquei muito motivada. Acompanhei por um tempo e depois decidi criar um perfil para que eu pudesse ajudar outras pessoas também”, ela diz.
Anna Carolina conta que assim que passou na faculdade, “muitas pessoas chegaram no meu perfil com muitas dúvidas e almejando passar também, e esse foi meu ponto de virada no instagram. Comecei a produzir conteúdo para resolver as maiores dúvidas do pessoal que me seguia”.
Com a pandemia, ressalta Anna Carolina, “vi que muitas pessoas ficaram sem acesso a material de estudo. Aí decidi compartilhar meus próprios resumos do ano de vestibular para que pudesse contribuir um pouco com o estudo de pessoas sem condições de arcar com cursos online e outros alunos em geral também”.
A estudante destaca que não dá aula. “Gravo alguns vídeos no meu Instagram sobre redação, mas deixo claro que compartilho minha experiência como aluna e com base nas cartilhas liberadas pelo próprio INEP [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira]”, diz.
Público diversificado
“Todo conteúdo é oferecido a partir do meu perfil no Instagram, seja em formato de post, vídeos no igtv ou link para o drive com resumos. Pessoas do Brasil inteiro me seguem, mas não tenho essa base de serem alunos carentes ou não. Já recebi alguns relatos de alunos sem condições de arcarem com curso online, mas acredito que é um público bem diversificado”, conta Anna Carolina.
E o retorno tem sido significativo, segundo ela. “Com certeza! Recebo muitas mensagens, fotos e vídeos de pessoas utilizando o material que disponibilizei e agradecendo por isso! Muitos dizem que só estão conseguindo estudar através dele, o que é fantástico pra mim”.0
“É uma sensação surreal! Não esperava uma repercussão tão grande e fico imensamente feliz de estar contribuindo pelo menos um pouco. Entendo como o ano de vestibular é um momento difícil, mas nem consigo imaginar o quanto isso deve estar amplificado nesse momento de pandemia. Sou imensamente grata por ter a oportunidade de auxiliar tantas pessoas através do meu perfil, o que é meu principal objetivo”, completa a estudante.
Manifesto à ignorância. Foi assim que a médica Adrielly Oliveira, de 28 anos, que trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de três hospitais em Goiânia começou o texto dela que viralizou nas redes sociais. A médica disse ao Eufemea que escrever é o “escape” dela.
Adrielly decidiu publicar o texto após juntar a indignação dela com a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que incentivou as pessoas a entrar em hospitais e filmar.
O texto de Adrielly ganhou repercussão e foi compartilhado por várias pessoas nas redes sociais. (Leia o texto na íntegra aqui) A médica não esperava isso.
Ontem, o Brasil alcançou a marca de mais de 1 milhão de casos confirmados da covid-19. Mesmo com isolamento social, os números continuam crescendo e o desespero dos profissionais que estão na linha de frente é perceptível.
Foto: Adrielly trabalhando na UTI
“Peço que entrem, arrombem as portas, invadam os hospitais, mas fiquem mais um pouco e assistam o que aí de fora preferem negar. Vamos começar com a paramentação: tire sua roupa, coloque o unissex, lave a mão, touca e pro-pré, máscara N95, álcool e gel nas mãos, capote, luvas, Máscara Face Shield – é pesada? É assim mesmo, ao fim do dia você se acostuma. Lembrem-se: sem histeria”, diz um trecho do texto da médica.
Ainda no texto, Adrielly pede que “invadam as enfermarias e façam companhia a solidão dos que esperam ansiosos a alta ou a qualquer momento lhes faltar o ar.” “Talvez vocês consigam os consolar dizendo que afinal todos vão morrer um dia”, disse.
Ao Eufemea, a médica contou que a parte do texto que tem dizendo “segura a minha mão” aconteceu uma paciente que ela precisou entubar. “Ainda bem, depois de muita luta, esse paciente teve alta”, contou.
Já a situação do “não ventila” foi uma que aconteceu com uma amiga dela durante um plantão de madrugada.
“Desde o início da pandemia venho falando para os ‘vetorzinhos’ de corona, que a única medida eficaz é o isolamento”, contou, citando que a postura do governo acabou deixando a população dividida e confusa.
Adrielly disse que a rotina dela e dos outros profissionais que trabalham com ela mudou muito. “Muitos colegas acabaram se infectando e a gente precisa cobrir”. Com isso, alguns acabam precisando trabalhar mais.
Para ela, está tudo longe de acabar e a situação emocional dos profissionais da saúde tem sido a mais difícil de lidar. “As famílias não podem entrar no hospital e às vezes, os pacientes internados estão acordados e evoluem com piora. Passamos a visita com os familiares por telefone e isso é muito complicado”.
Segundo ela, o óbito é a pior parte. “Eu sempre penso nisso… não se pode ver o familiar no caixão”.
Sobre os governantes, a médica disse que eles falharam. “ Não houve uma postura clara e isso confundiu ou confunde o povo que prefere pela ignorância”.
Para ela, “incitar a invasão e colocar culpa em quem não tem culpa” é apontar o dedo para o outro e não fazer a parte deles.
“Nosso governo buscou soluções rasas, superficiais e não estruturou e se preparou, agiu politicamente quando se devia agir estrategicamente levando a ciência a sério”, finalizou.
A Sétima Arte poderia estar em festa hoje para lembrar o Dia do Cinema Brasileiro. Não haverá! A pandemia do novo coronavírus eclodiu, afetou a vida no Planeta e obrigou ao fechamento de praticamente todas as salas de cinema do país desde março, quando foi decretado o isolamento social. Esta semana foi vez da Academia de Hollywood anunciar o adiamento da edição 2021 da cerimônia do Oscar de fevereiro para 25 de abril.
Desafio gigantesco ainda mais para o público feminino numa área dominada pelos homens. Para marcar a data e mostrar como cineastas alagoanas estão encarando esse momento, o Eufemea ouviu Larissa Lisboa e Alice Jardim que falam da carreira, dos projetos futuros, de sororidade, de se dar as mãos e o que representa para elas a cinematografia.
“Trabalho com cinema desde 2009, realizei filmes antes disso, mas foi em 2009 que me voluntariei para somar junto à Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas de Alagoas (ABDeC-AL). O meu interesse pelo audiovisual alagoano tomou corpo quando escolhi fazer um catálogo sobre a produção audiovisual alagoana em 2007, que apresentei como meu Trabalho de Conclusão de Curso em 2008”, conta Larissa.
Larissa lembra que tudo começou no curso de Comunicação Social – jornalismo entre 2003 e 2008 na Ufal. “Foi através de um dos professores do curso, Almir Guilhermino, que fiquei sabendo da existência do livro Panorama do Cinema Alagoano, de Elinaldo Barros, uma obra que não só me permitiu conhecer sobre os filmes realizados em Alagoas entre 1921 e 1982 quando li a sua primeira edição publicada em 1983, como também um estímulo e inspiração para a pesquisa sobre a produção audiovisual alagoana que comecei a desenvolver em 2007 e desenvolvo até hoje”, relata.
Larissa Lisboa: “São inúmeras dificuldades, mas preciso reconhecer que sou uma pessoa privilegiada, pois tenho recursos para realizar meus filmes”.
Foto: Renata Baracho
Entre 2009 e 2011, ela conta que teve o primeiro ciclo onde se viu como documentarista. E em 2012 começou a atuar no Sesc Alagoas como analista de audiovisual. “Uma experiência que me deu e me dá muitas oportunidades e aprendizados. Passei a cuidar de curadoria e exibição de filmes, planejamento e produção de ações formativas. Acessei e acesso muito do que aprendi nas oficinas e cursos que estive como aluna, para planejar, propor, acompanhar e ministrar cursos e oficinas em audiovisual”, destaca a cineasta.
Em 2015, junto a Amanda Duarte, diz a cineasta, “lancei o site Alagoar (www.alagoar.com.br), em que junto a colaborações tem sido possível reunir informações sobre filmes, dialogar sobre as produções audiovisuais alagoanas, disponibilizar informações sobre profissionais, cineclubes, produtoras, curadorias, trabalhos acadêmicos, críticas, roteiros, entre outros”.
“Vários momentos pensei em desistir”
Nem tudo, porém, é ‘um roteiro feliz’ na vida de uma cineasta. Aliás, muitas são as barreiras que chegam até a fazer quem ama a profissão a pensar em desistir.
“Vários momentos pensei em desistir. Em parte eu desisti de produzir por alguns anos, mas hoje vejo que fui até além de desistir, porque também reconheço que negligenciei o que estava produzindo, por seguir a visão do que deveria ser visto como um filme (documentário ou ficção) e não me permitir a ver o que produzia como filmes híbridos. E por acreditar que para ser uma realizadora precisava ser convidada ou ter os meus trabalhos reconhecidos pelos outros ou por editais”, diz Larissa.
Entre as barreiras o fator gênero fala alto. Ser mulher e fazer cinema não é das tarefas mais fáceis. “São inúmeras dificuldades, mas preciso reconhecer que sou uma pessoa privilegiada, pois tenho recursos para realizar meus filmes, e mesmo quando não os tive houve quem me ajudou a ter acesso a equipamentos”, afirma Larissa.
Larissa: “Diria para as mulheres, pessoas trans e não binárias que elas são necessárias no mundo do cinema”
“Além das dificuldades físicas e estruturais de acesso à informação, a formação e aos equipamentos para realização audiovisual, existe também a questão de identificação, como uma mulher negra, indígena, uma pessoa trans, não binária que não vê outras mulheres negras, indígenas, uma pessoa trans, não binária atuando na produção audiovisual alagoana vai compreender que ela pode ser uma realizadora ou qualquer outra função da produção audiovisual que ela se identifique”, pontua Larissa.
Às mulheres que sonham em seguir a carreira de cineastas, ela manda a mensagem: “Diria para as mulheres, pessoas trans e não binárias que elas são necessárias no mundo do cinema, mais do o que o setor as reconhecerá e além das oportunidades que ele dá e permite”.
Quanto aos desafios encarados principalmente nesse da pandemia, Larissa entende que essa é “uma questão que pode ser respondida de forma diferente dependendo do dia em que se leia durante a pandemia e pós-pandemia. Existem inúmeras recomendações sobre manutenção de filmagens na pandemia e pós-pandemia, mas não tenho acompanhado se estão sendo feitas e como estão sendo feitas filmagens”, diz.
E afirma: “Vi repasse de que os projetos que foram contemplados no Edital do Audiovisual de Maceió 2019, e receberam os recursos, teriam um adiamento do prazo devido à suspensão das ações por recomendação da OMS diante da pandemia de Covid-19. Não tenho conseguido acompanhar a situação da Agência Nacional de Cinema, mas não tem como não sentir que há uma desconstrução sendo praticada diante da pública e recorrente desvalorização da cultura pelo presidente Jair Bolsonaro”.
Da paixão pela fotografia ao cinema
A alagoana Alice Jardim mora em São Paulo há 5 anos, onde trabalha com cinema. Dona de um vasto currículo, ela falou com o Eufemea sobre sua atuação.
“Trabalho com cinema desde 2008. Terminei o curso de Arquitetura e Urbanismo (Ufal) no final de 2007. Meu TCC foi um vídeo e a partir desse trabalho eu fui conhecendo mais pessoas e procurando cursos complementares na área de comunicação e artes visuais. Em 2008 eu retornei para o grupo de pesquisa que eu já fazia parte, grupo Estudos da Paisagem, para fazer o material fotográfico e de vídeo de algumas pesquisas que estavam em andamento”, ela conta.
A paixão pela fotografia, diz Alice, “foi um grande fator que me fez começar a pensar no audiovisual, uma vontade de criar, de compartilhar o olhar. Teve vezes que eu fazia uma foto e para mim já não estava sendo suficiente, eu estava buscando algo mais ali. Dentro do meu trabalho no cinema sempre dialoguei muito com as artes visuais”.
No começo, ela se encantou pela ideia do documentário. “Fazia as experimentações visuais com a câmera e aí com o tempo eu fui entendendo melhor como podia juntar as duas coisas. E aí o primeiro trabalho que fiz com equipe, maior, foi o Maré Viva, que é uma ficção. Foi um processo de aprendizagem enorme com esse filme, porque ele tem essa mistura experimental que eu trazia da videoarte, mas também da cidade, da arquitetura. Outro filme que para mim marcou bastante foi o Rua das Árvores, o primeiro de um edital que eu ganhei verba, enfim, são vários”, pontua.
Sobre desistir da profissão, Alice diz que nunca pensou. “Sempre alternei muito entre o cinema, a fotografia documental e o design gráfico. Quando vim para São Paulo, em 2015, vim pensando em estar mais perto desse lugar das artes visuais e conhecer mais sobre o cinema, mas eu também estava muito aberta em trabalhar mais com o design gráfico digital que é o que hoje estou fazendo”.
Conta que ainda fotografa. “Tenho feito pouquíssimos trabalhos em vídeo, mas o principal, que gera minha renda, é o designer gráfico. Estou sempre encontrando caminhos de trabalhar dentro da área que eu gosto, mesmo que às vezes eu tenha que adaptar um pouco algum pedacinho dela.
“Aqui em São Paulo eu fiz uma pós em cinema, vídeo e fotografia: criação em multimeios. Foi nesse período também que eu conheci o documentário interativo e iniciei com amigos o Crop Coletivo, que é grupo que estuda narrativas interativas para a web”, ela lembra.
“É preciso estar junto, se apoiando”
Ser mulher e cineasta para Alice Jardim foi um privilégio. “Tive o privilégio de conhecer mulheres muito importantes na minha vida, não só da minha família, mas no caminho que me inspiraram no cinema. No cineclube Ideário e Tela Tudo, por exemplo, a gente ia muito se apoiando, se ajudando e trazendo coisas coletivas. Sempre tive o privilégio de estar perto de pessoas que me inspiravam muito e que me davam essa abertura, como Nataska Conrado, Lis Paim, Nadja Rocha, Larissa Lisboa, entre outras…”, ela afirma e segue a narrativa.
“Então eu nunca me questionei muito sobre essa dificuldade de estar produzindo. Eu acho que metia muito a cara mesmo e com o passar dos anos eu fui percebendo o quanto foi importante esse apoio que a gente se dava e o quanto era importante apoiar outras mulheres para chegar mais perto e entender que é possível estar em posições dentro da equipe mais de direção ou outras posições que normalmente são mais ocupadas por homens”, diz Alice.
Alice fala da importância do apoio entre mulheres, mas diz nunca ter sentido problema em estar no mundo cinematográfico e ser mulher.
“Eu nunca senti essa dificuldade na pele, não que é eu tenha percebido, mas cada vez mais que eu fui entendo, principalmente depois que vim para São Paulo e fui vendo um pouco mais dentro do mercado e entendendo outros universos, o quanto que é importante esse apoio. Fico muito feliz em ver que essa discussão está crescendo e que as mulheres estão entendendo cada vez mais que não só precisam se sentir mais à vontade de ir para onde querem, mas de apoiar as outras. Acho que a sororidade é uma coisa muito especial”.
“As mulheres têm que pensar sobre isso: quantas mulheres estão na minha equipe, quem eu posso trazer”, diz Alice Jardim sobre papel da mulher. Foto: Flávia Correia
A cineasta acredita que “a nossa geração ou até antes aprendeu essa coisa de sororidade e acho que para ter mais mulheres no cinema as mulheres têm que pensar sobre isso: quantas mulheres estão na minha equipe, quem eu posso trazer, quem precisa estar junto e se apoiando também”.
Sobre a pandemia do coronavírus, ela diz a afetou “diretamente por conta de um trabalho diferente que eu estava fazendo um pouco antes de entrar na quarentena. Eu passei numa seleção do Sesc São Paulo para ser arte-educadora, do espaço de tecnologia e arte, e estava muito feliz porque era um espaço de oficinas, mas só fui dois dias e depois entrou em quarentena. Passei os três primeiros meses que seriam experimentais em casa. Eles não estavam fazendo trabalho remoto, mas eu gerei alguns conteúdos para redes sociais e como o Sesc não tem opção de volta, optaram por não renovar o contrato que era temporário”, diz.
“Me afetou porque era uma vaga que eu queria muito. Ter essa possibilidade de me reconectar com os trabalhos artísticos, porque aqui fiquei muito nessa de procurar renda, ver onde me encaixava e era uma oportunidade. Nos cinco anos aqui em São Paulo, a maior parte do meu trabalho foi em casa, em home office. Quando achei um trabalho na rua tive que voltar para casa”, confessa Alice, ao dizer que quando tudo isso passar planeja primeiro vir a Maceió, tomar um banho de mar e abraçar família e amigos que aqui deixou.